Crônicas

Por trás da natureza

        Há momentos, quando olhamos ao redor de nós, que enxergamos por dentro do caos urbano, social, enfim, desse entorno algo de maravilhoso que segue funcionando.
         Até mesmo quando vemos as tragédias naturais acontecendo. Vindas de tormentas, tsunamis, terremotos ou das lutas dos animais selvagens por sobrevivência, alguma coisa que nos deslumbra pela grandeza do acontecimento. Pela naturalidade com que as coisas vão funcionando sem parar, como uma máquina perfeitamente azeitada que tritura o que acontece pelo caminho em um processo dinâmico e sem fim.
        Esse espanto que nos amedronta, que nos encurrala e, muitas vezes, mata muitos de nós, vítimas das hecatombes ou mesmo das consequências pelo que fazemos reúne uma beleza ameaçadora e deslumbrante.
        Porque a beleza não é só aquilo que nos faz bem aos olhos e à mente. A beleza reside nessa força imensurável e incontrolável que se abate sobre nós. A fúria dos elementos é de uma beleza assustadora e maravilhosamente estúpida e estonteante.
        Por trás da natureza existe um algo de maravilha que se desenrola e se desfaz. Se refaz e torna a fazer como um ser imensurável e sem controle. Nas outras vezes, a calma se apossa no depois da catástrofe como se nada houvesse acontecido. Para a natureza é algo normal e faz parte da sua essência. Para nós, a necessidade de controlá-la para a nossa sobrevivência.
        O curso normal da natureza, quando interrompido, devolve no mesmo ímpeto, como se uma raiva se apossasse desse ser, aquilo que se faz com ela. A natureza não reage, mas ela se vinga.
       A força da vingança de um ser mitológico que se abate sobre nós também pode ser descrito como o maravilhoso funcionamento da vida por si mesma.
      Vencemos e submetemos algumas forças dos elementos. A terra devolve com frutos aquilo que plantamos nela. Se plantamos aquilo que nos interessa economicamente prejudicamos a própria força e ela nos devolve com a esterilização do solo. A água que segue como o ser indomável pode nos dar a força para iluminar nossas vidas mas, ao mesmo tempo, pode nos devolver com catástrofes que nos arruínam. O fogo, sob nosso controle, é capaz de transformar elementos e moldá-los ao nosso gosto. Sem controle varre como uma vassoura mágica tudo aquilo que o homem colocou no seu caminho. O ar que respiramos está na leveza do vento, na força que move moinhos e sonhos e é capaz de destruir como um tapa cósmico tudo aquilo que se ergue.
       Deveríamos criar um quinto elemento que seria este estado contemplativo de admirar a natureza por si mesma. Seria o mais maravilhoso dos mundos poder sentar e ver a natureza funcionando, sem a nossa interferência. Contornar os elementos em vez de confrontá-los.
         Como seria maravilhoso, simplesmente, observar a natureza seguir seu curso e entrar no mesmo barco e seguir com ela.

Origem da foto: Foto de Luka Vovk na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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