Crônicas

Onde está Deus?

        Poderia dizer que essa é a pergunta de milhões de dólares. Os religiosos, os agnósticos e até os ateístas procuram Deus, onde ele está, suas intenções, o que pretende. Alguns, simplesmente, dizem que o que acontece é obra de Deus, tanto as coisas boas, para nós, e também as más, as que nos atingem duramente. E a única resposta possível é agradecer as boas e suportar as más com o estoicismo devido.
          Mas a pergunta se eterniza por todo o tempo da nossa individual existência.
        Muitos O definem como o Absoluto, A coisa em si mesma, O incondicionado, O não ser ou o Ser. Palavras que não definem e no fundo não querem dizer absolutamente nada. Aliás o lugar onde, se presume, Ele tenha se originado. O ser criado de Si mesmo.
          Por outro lado, deveríamos nos perguntar por que queremos saber onde Ele está, para onde vai e o que está fazendo neste exato instante.
         Creio que aí nasce a primeira pretensão. Por que interessa saber onde Ele está ou quais são Seus desígnios. Até porque é muita pretensão querer saber o que um deus está fazendo. Para saber isso somente um outro, dentro da sua mesma capacidade e força, teria condições de entender. Logo, se nós somos simples humanos, criação Dele, e não sendo deuses, jamais teremos a capacidade de responder estas perguntas. Logo são perguntas desnecessárias e improdutivas.
          Vai daí perguntar, onde estamos, o que fazemos neste instante, o que queremos e quais são nossos desígnios?
          Nossa função não é saber o que é Ele, mas procurar, investigar, estudar e saber ou tentar compreender o que não é Ele, do que não é feito Ele.
        Nosso trabalho, através da ciência, da racionalidade, da reflexão a partir de evidências é retirar Deus debaixo dos escombros onde O colocaram, e, portanto, desviaram toda a nossa capacidade de tentar entender o nosso contexto.
      É afastar de nós, do nosso convívio aqueles que usam o nome Dele para suas pretensões pessoais. É nos afastar daqueles que frequentam o Seu templo e saem para as ruas para fazer, exatamente, o oposto. Quando lançam mão do Seu nome, e dizem coisas em Seu nome para encobrir os seus maus procedimentos. É afastar de nós aqueles que distorcem as Suas palavras ditas a iniciados em idos a favor de seus interesses. Essa é a nossa função.
        Portanto, agir com racionalidade. Mas, diriam alguns, na tentativa de desvirtuar o sentido das Suas palavras a favor de si, de que a razão não é Deus, porque ele é sentimento. Ora, se Deus é tudo, Ele também é a razão que nos leva a desmontar as armadilhas no caminho, daqueles que querem usar o nome Dele para seus desígnios.
         A nossa função, como simples mortais, é defendê-Lo contra os mortais que estão próximos a nós. Quanto ao resto, isso é tarefa Dele.

Origem da foto: Foto de Greg Rakozy na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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