Onde a História não cabe mais
Em posts anteriores, devo já ter afirmado que a História, depois da Internet, nunca mais será a mesma. Minha reflexão se alicerça no sentido de que a Internet, como mural documentário, sem dono, sem fronteiras, aberto a qualquer um que tenha uma tomada elétrica ligada ou um celular carregado no fim do mundo, vai viver e reviver, no mais, sem o controle dos governos, controlado por um mundo de ninguéns, provedores do próprio risco.
Muito se diz, a respeito de fatos políticos gerados nas décadas do século XX, sem internet, com os documentos não digitais entregues à guarda de interesses, contra o qual a memória viva é o melhor testemunho contra a manipulação e contra o recontar da História, a partir de interesses ideológicos ou de mercado.
Muitas das memórias vivas poderiam recontar seu papel, escondendo fatos comprometedores, e baseados unicamente na confiança. A partir de agora, não se perguntará mais ao vovô, perguntarão, as futuras gerações, ao Google.
Algum participante da famosa passeata da TFP, com o marechal do golpe de 64 à frente, certamente, insatisfeito com seu proceder, permaneceu escondido no meio de tantos e difusos nas fotografias da época, e entregaram-se ao mutismo ou à mentira de que não se interessavam por política.
O selfismo, no entanto, arma apontada para si mesmo, cai na rede, e a profusão de fotos, com participantes exibindo os mais disparatados mecanismos de defesa de argumentos, é o principal acusador daquilo que diz: “Nós sabemos o que você fez, naqueles idos da segunda década do século XXI”.
A História nunca mais será uma história. Passaremos aos nossos filhos e netos aquilo que fizemos, com nome, endereço, camisas e adereços. Hoje, mais do que nunca, o selfie está no futuro, não no presente. Agora, ele é apenas uma suposta festa, no futuro será a porta da rua. Não haverá versões, não haverá condições, não haverá argumentos, contra fatos estampados na Internet, simplesmente ao puxar o nome de alguém, na versão de notícia, imagem e vídeo.
Netos poderão perguntar o que aquilo significaria. Poder-se-ia, aproveitando as nuances gramaticais fartamente abusadas pelos ególatras interinos, dizer que seriam coisas da juventude. Quando, na verdade, muitos estavam na suposta maturidade. Ao findar o regime nazista, os alemães sobreviventes se disseram opositores ao regime. E ficou combinado assim: aqueles que morreram eram os simpatizantes.
Quais seriam as respostas para: Você era um golpista? Por que o cartaz defendia um corrupto? Não era outro o objetivo?
Muitas explicações podem ser dadas, ou simplesmente o silêncio e a vergonha. A lata de lixo da História estará transbordando.
A pergunta que a História vai responder, independente das reações, baseada em fatos é o que fizemos e o que deixamos para o futuro de nossos netos e filhos.
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