O uso das palavras
Em uma reunião de amigos, alguém perguntou quem era a favor da liberdade de gêneros. E essa palavra sempre me incomodou, de uns tempos para cá. Todos afirmaram que sim, que julgavam justo etc. etc. Eu, ao contrário, disse, claramente, que não era, já esperando olhares desconfiados. Dentre as reprovações, observei algumas não tão convictas, independente da firmeza de dizer o “a favor”, mostrando uma certa concordância com o meu pensamento, até então.
E isto me leva ao comportamento do politicamente correto. Percebo que, na ânsia de estar inserido no contexto social ou da aprovação social, alguns não percebem certas armadilhas da língua.
Em minha defesa, argumentei ao meu interlocutor, então voltando todas as suas baterias para o meu preconceito, perguntei se ele era a favor da ditadura ou mesmo do comunismo. Ele, como seria óbvio, respondeu que para nenhuma das duas era favorável, apresentando uma série de argumentos, inclusive que estes regimes não permitem a livre expressão de ideias e atitudes etc.
Pois é, disse eu, ele não era a favor porque não concordava com os fundamentos que norteiam esses regimes de governo.
Usando esse ponto, eu disse que não era a favor da liberdade de gêneros, como uma provocação, e queria demonstrar que antes de uma concordância ou discordância com uma maneira de pensar, devemos respeitar o direito de qualquer movimento à livre manifestação. Portanto, respeitava o direito de cada um determinar o rumo de sua vida e, portanto, ser a favor ou respeitar o direito do outro têm uma distância a ser considerada a meu ver.
Vejamos. A própria inquirição de ser a favor, já pressupõe um patrulhamento ideológico inaceitável, principalmente para aqueles que pregam o livre manifesto.
Temo que estejamos caindo em um tipo de ditadura, uma forma velada de autoritarismo. E o ponto de vista se baseia no fato de uma caça às bruxas, como no caso do texto de Monteiro Lobato, acusado de racismo.
O uso das palavras preto para definir uma situação difícil, como a “coisa está preta”, nos impediria de dizer que alguém “deu um branco na prova”, atestando que branco é o sujeito incapaz, esquecido ou com alguma deficiência. Ou o “amarelou”, ofendendo, diretamente, a comunidade japonesa.
Respeitar o outro em sua integridade de pensamento é o preceito básico para a caminhada difícil da sociedade. Nestes tempos modernos, de tecnologia que facilita a aproximação dos “diferentes”, ao contrário do que se imagina, faz o mundo andar melhor e se conhecer melhor. Diferentes, ao se associarem, se conhecerem pelo mundo, se ajudam no processo de sobreviver ideias, fundamentos e crenças.
Não se pode, de maneira nenhuma, querer uma aceitação forçada, constrangendo pessoas, apenas para que elas possam ser aceitas no mundo pós-moderno. Neste novo mundo, onde as diferentes culturas convivem, queremos que elas se admirem e aprendam algo entre si.
Sim, o aprendizado existe. Nada mais cristão e moderno do que viver e conviver lado a lado com as diferenças. Um sujeito liberto para expressar seu modo de vida, o fará menos preocupado em se esconder e ele se sentirá seguro em participar da sociedade. Ninguém deve ser vítima de chacotas no seu modo de viver. Nada enriquece mais uma sociedade do que o sorriso de satisfação nos rostos das pessoas.
E ninguém está pedindo favor a ninguém. Respeitar é a regra, se você é favorável ou não diz respeito à sua opinião.
É claro que poderia contar uma piada deliciosa para aumentar os nossos sorrisos. Mas, se ela envolve gente de outras terras e vivemos em um mundo de pisar em ovos; Tomates? Quiabos?, devemos ter muito cuidado com as palavras, elas dizem muito mais do que pensamos sobre os outros.
Origem da foto: Foto de Amanda Jones en Unsplash
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