Opiniões

O que é a natureza!?

        Vivemos uma fase muito interessante de convertidos. Gente que a gente sabe o que fez no verão passado, e vive, no inverno, algumas mudanças peculiares. É claro que as pessoas têm o direito e, até mesmo, o dever de mudar, se reconstruir, mudar sua forma de pensar e agir. É um processo dinâmico do ser humano.
      Existem aqueles que mudam por necessidade, por reflexão ou por oportunismo. Fica difícil, assim, perceber em qual das modalidades as mudanças de opinião e comportamento se inserem. Ou não.
      No meio, na plateia, assistindo as conversões, estão aqueles que se sentem abandonados, aqueles que se sentem confortados e aqueles que serão, sempre, os desconfiados. Eu fico meio entre os confortados e os desconfiados. Até porque, mesmo desconfiado, tendo sempre a acreditar que o mundo avança, mesmo que o abismo seja logo ali adiante. E, na verdade, para onde vamos todos, caminhando para o escuro, procurando a luz do final do túnel.
        Me arrependi!
        Será mesmo?
      Algum tempo atrás, postei neste blog uma série de reflexões sobre um assunto Infocommodity que queria desenvolver em um curso de pós-graduação. E desisti por razões minhas. Nele eu argumentei sobre um tipo de oportunismo que surge entre pessoas que, supostamente, pensam um formato de discurso somente para atingir um determinado público. E me vem à cabeça aquela questão de mudar para continuar a ser o mesmo: oportunista.
      Alguns, dando aquela guinada à esquerda (??), em busca do bom mocismo, enxergam que chegou a hora de abandonar o grotesco que alimentou e onde cresceu, para poder navegar em águas mais límpidas, mais afastadas de um esgoto em que se banharam no verão passado; afinal quem não gosta de posar de intelectual, dentro do mundo insano e vergonhoso, não é mesmo? E até advogam um estado de direito! Ora, ora, já era hora!
        E a turma que se converte ao light vai se separando daqueles que continuam se alimentando do esgoto, na busca frenética por likes, ou porque se divertem ou porque se identificam, realmente, no discurso, abrindo espaços para neófitos que vão chegando, também, na busca de seus espaços e respectivos likes, tipo fazendo uma carreira. Eivados do discurso moralista e fácil que encanta a turba do deixa comigo que eu resolvo, tenho a solução, caminhando e cantando de armas na mão! Ops, fake news também vale.
         E aí, você me perguntaria o que tem a ver o título com o texto, a causa com o efeito. Pois é.
      Esse era um jargão que um humorista da década de 60 e 70, conhecido como Zé Trindade, dizia quando estava diante de alguma situação inusitada do personagem que tinha ao seu lado, que demonstrava algum comportamento, digamos, fora do normal, não era ele, era outro. Indignado e irônico ele dizia, na tentativa de explicar o fato: O que é a natureza!?
       Coisas da natureza humana não tem explicação, ou tem. O sujeito é criado na pobreza, e, no entanto, defende o direito do rico sobre a reforma de tributos que vai garantir o seu (sic) emprego. Do sujeito que defende uma reforma trabalhista, da qual se beneficiou no passado, fruto da luta de seus pais e avós, e condena filhos e netos a viverem na escravidão futura, apoiando a sua alteração. Ou então, fruto de uma preguiça intelectual, ao taxar de comunismo tudo aquilo que não entende, tem medo ou vai de encontro aos seus “princípios”.
        No meio disso, entram os oportunistas que vendem o discurso certo, as palavras certas para justificar o injustificável, dando voz a quem precisa. E se aproveitam dessa preguiça intelectual para ocupar espaços.
        É a natureza humana. Uma mistura de preguiça e inveja intelectual, e a busca da tal teoria da prosperidade patrocinada por deus (em minúsculo, porque é um deus irreconhecível), o gênio da lâmpada que vai trazer a riqueza fácil.
        Pois é. O que é a natureza!?

Fonte da foto: Wikipédia, Zé Trindade

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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