Crônicas

O prazer de viver

        Colocar um verbo em questionamento é uma atitude que questiona as coisas que pensamos. Por exemplo: trabalhar para viver ou viver para trabalhar ou prazer em viver ou viver para ter prazer. O verbo assume dupla função e duplo sentido.
         A vida é um pouco assim, quando obedecemos às convenções ou não. Ao que parece vivemos uma burocracia, um certo sistema que roda indefinidamente e vamos entrando no processo, sem nem mesmo saber o sentido do que fazemos. Fazemos porque fazemos e a vida continua.
       Quando questionamos o nosso sistema de vida, devemos fazer perguntas, não para obter respostas, mas para colocar nosso raciocínio em questão, até para uma sobrevivência mental. Quando vivemos uma vida e chegamos à idade de idoso, podemos olhar a vida passada como um livro que se abre, e nos perguntamos todo o tempo, o que poderíamos ter feito para modificá-la. Não sei se perdemos o medo das coisas, ou pelo fato de não poder voltar e arriscar faz com que achemos ter encontrado alguma fórmula que poderia mudar tudo.
         Mas, se todos pudessem retornar no tempo, fariam coisas diferentes e os grupos não se encontrariam e viveriam vidas diferentes e, no final das contas, tudo ficaria na mesma.
         O prazer é fato importante nessa caminhada. Buscamos, não necessariamente um prazer, mas um sentido na vida. O prazer estaria nas coisas mais simples e nas complexas. Envolve tudo isso a vida profissional e amorosa, dois fatores importantes nas nossas vidas.
        Trabalhamos com o sentido de ter uma vida material confortável. Mas será que essa busca pela matéria, influenciada pelos costumes, pelo consumo nos trouxe conforto ou apenas estávamos em uma competição intestina com semelhantes, e não nos levou a lugar algum?
        Por outro lado, a vida amorosa nos trouxe prazer ou, também, fomos influenciados pelos costumes, regras, convenções. Amamos?
       Se empregamos nossos esforços em fazer, profissionalmente, algo que nos agradou, com certeza há um coeficiente de alegria nisso. Nem tudo saiu a contendo, mas fizemos aquilo que nos deu mais prazer. E se fizemos com prazer fizemos com gosto e carinho.
      Se nossos esforços estiveram na busca do amor, da pessoa amada, na realidade buscamos o amor para o nosso prazer ou buscamos a pessoa amada para nos dar prazer ou dar a ela esse prazer?
      O verbo é ação, uma vez passivo outra vez ativo. E como ele, a vida vai se alternando e chegamos no final de tudo com a ideia de que não fizemos o que queremos, mas fizemos o que foi possível fazer, com o prazer relativo em cada situação.

Origem da foto: Foto de Aziz Acharki en Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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