O discurso da ordem
Critico, veementemente, aqueles que sentam em uma mesa e começam a determinar, normalmente, sem nenhuma base científica, ou um mínimo de leitura de qualidade, como estudiosos das Ciências Sociais, de qualquer matiz ideológico, como deveria funcionar a sociedade. Seus pontos de vista são meros repetidores de outros, usados como seus. O discurso da ordem é isso: o fascínio em determinar para onde deve seguir uma sociedade, sempre a partir de suas “certezas”.
O DISCURSO DA ORDEM
A oposição não é uma cria por si mesma, ela é oriunda do próprio ser onde se posiciona como adversária. Uma parte da sociedade se diz organizada, pacífica e responsável. Suas diretrizes são bombardeadas por anos e anos de dominação, onde é louvado aquele que se enquadra e defenestrado aquele que se insubordina e consegue se desvincular da monotonia do discurso dominante.
Caso alguma coisa, um fato, uma circunstância saia do eixo de entendimento, o discurso predominante é que aquele que se opõe à ordem estabelecida é culpado pela incorreção do rumo. Nada existe de responsável fora da sociedade organizada e pacificada pela força econômica dominante.
A força dos discursos está em dizer que as mazelas que acontecem na ordem estabelecida são determinadas pelo risco do mercado, seja o desemprego, a queda da renda, a assistência social precária, tudo é debitado a uma correção de rota da ordem. E, revoltar-se contra isso é um desserviço à Pátria, ao País, este ser que paira sobre as cabeças como um martelo pronto a punir os desorquestrantes.
Afinal, de que país nos falamos, quando nos seus limites territoriais convivem as forças sociais, econômicas e políticas, que lutam pelos espaços para poder, aí sim, se considerarem dignos de habitá-lo?
Todas as correções de rotas são pertinentes a qualquer força democrática que ascende ao poder. A diferença do discurso está em que as mesmas fórmulas aplicadas são julgadas de formas diferentes. O bombardeio dos noticiários dos jornais não fere da mesma forma as duas ordens: a organizada e a febril.
Manifestações nas ruas não são prerrogativas, exclusividades de nenhuma das ordens. O poder de poder calar e falar dos meios de comunicação é que determina os valores de protestos.
A batalha congressual última mostra não uma forma de debate firme e consciente dos rumos do país. Mas se configura em uma oportunidade única de virar um jogo que foi perdido democraticamente.
A expressão colocar o governo “no chão” é própria de pitbulls de beira de praias, que ao mesmo tempo quer ser conciliador. Não é política, é ranço, vingança, como se o país que nós falamos fosse espaço exclusivo de uma suposta ordem organizada e pacificante.
O saber não é único. Ele é a soma de vários conflitos, de vários formatos, de histórias, vivências e culturas. As vozes não querem ser organizadas, elas querem se organizar. E expressam a sua forma no voto, na democracia.
O açodamento em antecipar as eleições de 2018 é o próprio formato da destruição de discursos. Pregar a desordem quando a ordem da grande maioria dos eleitores é a escolhida é ficar desorganizado quando a ordem enfim for estabelecida, pelos saberes da maioria.
Views: 8