Crônicas

O ato de compreender

     Em um dado momento das nossas vidas, achamos que compreendemos tudo à nossa volta. Quando jovens, temos uma pretensa maturidade antecipada como se, diante do mundo e das dificuldades, tivéssemos todas as soluções que os mais velhos não encontram. Jovens, enxergamos o mundo a partir das compreensões que fazemos. E, pobres de leituras, julgamos conhecer tudo; o mundo, as pessoas e somos arrogantes e vaidosos.
        Ninguém pode ter ideia de algo bom se não pode compará-lo com seu antagonista: o algo mau. Na vida, comparações são inevitáveis, e só comparando coisas podemos dimensionar a extensão de significados.
       Com o tempo, aprendemos que uma das formas mais simplistas de refletir sobre alguma coisa é trocando os atores. Se temos alguma dúvida sobre que opinião ter sobre algum assunto ou situações, trocamos os atores por alguém simpático ou não, dependendo das circunstâncias, e novamente as olhamos e vemos os resultados. Uma opinião, uma compreensão não pode se basear na simpatia ou na antipatia que temos. Julgar é refletir, refletir é um julgamento que fazemos internamente, jogando valores e conceitos que nós elaboramos em uma base sólida.
       Portanto, o ato de compreender é extensivo. Não é um ato individual, mas dentro de um coletivo que o tempo vai colocando dentro da gente, através do estudo, leituras, conversas e troca saudável de opiniões.
      O tempo pode envelhecer nossas ideias, e é contra isso que devemos lutar sempre. Jovens, criticamos os mais velhos porque não passamos pelas experiências. E mesmo aqueles que envelhecem continuam a pensar ser experientes, quando, na verdade, estamos sempre aprendendo algo novo. Porque o mundo se renova, não só na tecnologia como na capacidade de lidar com o outro.
        Compreender não é só entender, como uma fórmula matemática que abole o imponderável. Cada situação que nós vivemos é uma forma diferente de compreender. O que nos faz, através do tempo, compreender o outro, principalmente, é o sentimento de humanidade. Aplicar tudo aquilo que é desumano em nome de qualquer coisa se torna abominável. Jovens, talvez imaginemos a utopia de um mundo cartesiano. Prático, sem tréguas, onde o mais forte se impõe. Mais velhos, compreendemos que a única luta possível é sobreviver todos juntos, porque, mesmo que alguns pareçam fracos, eles fazem parte, de alguma maneira, da construção do mundo.
       Compreender a vida é compreender seu tempo. Uma ideia nova é uma maneira diferente de compreender o mundo. Uma ideia pode envelhecer ou amadurecer, mudar e transformar. Compreender seria então novas formas de compreender o mundo e acompanhar a sua evolução.

Origem da foto: Foto de Brett Jordan na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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