Opiniões

Meu pirão, primeiro

     No mundo atual, a vitória em qualquer setor de atividades é medida pelo lucro. Óbvio. Nenhuma atividade sobrevive tão somente por ideias, mas por itens de lucratividade, responsáveis pela manutenção no mercado.
     Confrontamo-nos com a velha questão: ética e lucro são coisas que combinam? Várias correntes se dividirão, mas não poderão esconder: o lucro é a marca moderna do empreendedor vitorioso.
     E para vencer e sobreviver, sem dúvida, qualquer um de nós tem que tomar partido. Escolher um lado. No lado em que acredita ou naquele em que pode sobreviver. Mais do que isso, principalmente na área de comunicação, o efeito manada, mais do que na Bolsa de Valores, dita o caminho a ser percorrido.
     Assim como no célebre dilema do ovo e da galinha, a pergunta seria: a opinião da maioria da população surge primeiro, ou a propagação das ondas do lago se origina de uma pedra bem colocada no centro do alvo? Dilema.
     No afã de noticiar primeiro, ter a informação primeiro, conseguir o furo e a venda extra de jornais, portanto, lucro, a mídia deve se preocupar com a verdade e o esclarecimento, ou em acompanhar a vontade das ruas?
     Sem dúvida, a mídia cumpre o seu papel de informar. A questão é informar para quem e com que objetivo. A tendência é acertar no alvo e faturar com ele. Mas sempre, sob quaisquer circunstâncias, ela, a mídia, sempre vai optar por um dos lados.
     A mídia não deve esconder nada e é remunerada para mostrar. Mas no mundo dos interesses, em que as fortunas aparecem da noite para o dia, uma pessoa pública é capaz de esconder sua riqueza? Como qualquer empresa, a mídia como um todo não pode também guardar seu estoque de informações?
     Como uma pessoa jurídica legalmente constituída ela deve obediência aos seus donos. Esses donos optam sempre por um lado por um motivo simples: os proprietários de jornais, os editorialistas a seu serviço, ou a serviço da linha do jornal, que, no fundo, significa os interesses dos seus donos, jamais adotariam a posição inimaginável de um meio de comunicação dar um tiro no próprio pé. Seria o mesmo de um jornal sindical, dominado por empregados estatais, pregar abertamente a privatização do setor porque acha que seria o correto.
     A mídia, assim como as pessoas, não abre mão de seu poder, restrito ou não, em prol de um ideal.
     Vemos o debate na internet entre jornalistas de diferentes espectros. Acusações de um lado e outro de cooptação. O que é isso? Não é tomar partido?
     Não existem inocentes no mundo empresarial, acadêmico, científico e político. Os empresários da mídia sobrevivem de anunciantes, e, principalmente no Brasil, do governo. Todos nós vivemos em função do lucro e da sobrevivência. A ética pode existir desde que se aparte o meu pirão primeiro. Mas é essa assunção partidária que democratiza a informação, cabendo ao público escolher o seu lado.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura