Crônicas

Meu personagem de 2024: A democracia

        Sem dúvida, vivemos tempos difíceis. Não que o mundo esteja dividido em lado A ou lado B, longe disso. Convivíamos desde tempos idos com as ideias que não combinam, lutas complicadas para manter uma determinada posição, mas dentro de um limite razoável de convivência.
       A internet nos trouxe a beleza da comunicação instantânea e ao mesmo tempo o perigo que toda beleza traz quando abraçada pela humanidade de uma maneira insensata. Não, não estamos divididos, mas um grupo da sociedade colocou as mangas e cabeças de fora e implantou o caos com o subterfúgio de pedir uma liberdade que, intrinsecamente, impõe um limite à liberdade dos demais.
     Nesse meio termo, a democracia, esse regime criado e duramente castigado, por ser difícil de implementar totalmente é, ao mesmo tempo, o que de melhor inventamos até hoje para a convivência dos diferentes.
        Desde que um grupo de pessoas resolveu fazer justiça por suas próprias mãos, a democracia se colocou na frente para barrar o destempero e o inconformismo daqueles que não aceitam aquilo que a democracia nos traz: a vontade da maioria.
        Se a maioria ganhou por pouco, isso não importa, porque um time que ganha de um a zero também garante os mesmos três pontos daquele que ganha de goleada. Essa igualdade de condições é o caos na cabeça de perdedores, tanto de cidadãos quanto de torcedores. A injustiça sempre pertencerá àqueles que perdem e que ousam se igualar com aqueles que, realmente, sofrem uma injustiça.
       Bravamente, nossa democracia venceu e ganhamos uma trégua para respirar, mesmo que o oponente inconformado resfólegue na nuca do vencedor. A vitória na democracia é efêmera, sujeita aos saltos e trancos da sociedade. Democracia é experimentação, é provar do néctar ou do veneno.
       Nossa jovem democracia venceu desta vez o fantasma que embarcou em um Simca Chambord nos anos sessenta e desembarcou do túnel do tempo em uma Brasília que já não era a mesma.
     Hoje, a democracia tem suas facetas. Em nome dela se pede a própria supressão dela mesma: um paradoxo ou uma estratégia? Confunde-se liberdade com libertinagem. Em troca de uma discussão séria sobre o que queremos ser, confunde-se a plateia com ideias fáceis e soluções mirabolantes para problemas complexos.

Origem da foto: Foto de ashutosh nandeshwar na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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