Meu personagem de 2020: um herói muito particular
Ao final de cada ano, repasso os acontecimentos e tento escolher o meu personagem. Sem dúvida, existe um personagem que dominou e domina os eventos, um inimigo que nos atormenta. Mas, meus personagens devem ser alegres, irônicos ou heroicos. Inimigos não podem ser personagens.
Dessa vez, eu queria escolher um herói muito particular. Ele faz parte de um contingente que luta nas redes sociais, nos plantões de atendimento médico, tentando salvar as pessoas, ou da ignorância, suportando xingamentos, descréditos, deboches, ou, durante o trabalho, junto com colegas, a vida daqueles que acreditam e tentam se defender e não conseguem, bem como daqueles que arriscaram a própria vida, imaginando serem super-homens negacionistas, e até aqueles que se graduaram para salvar vidas, mas insistem em seguir uma “orientação científica”, acreditando em projetos ensandecidos de mitos de barro.
Meu herói particular é MEU FILHO. Que segue todos os dias para os plantões, como um guerreiro sem armaduras, sem superpoderes, armado, unicamente, pelo dever de seguir em frente.
Algumas vezes eu gostaria que ele não fosse esse guerreiro, quando vejo sua figura cansada, e outras vezes eu sinto que nada é capaz de parar o instinto; daquele que nasceu para ser isso, para defender mesmo aqueles que não querem defesa, mas que na hora da decisão pela vida, colocam a sua vida nas mãos dele.
Fico me perguntando por que eles lutam sozinhos, por que não têm aliados?
O inimigo tem como aliados a ignorância, o egoísmo e a descrença. Como seria bom se a vacina fosse direcionada para esses sintomas? Talvez, nossos guerreiros não tivessem uma batalha tão dura para enfrentar.
Alguns torcem pelo inimigo, quando o menosprezam, o reduzem ao diminutivo, como se ele pudesse ser capaz de, somente, eliminar aqueles de quem não se gosta, ou os fracos. Não enxergam a própria incapacidade de ter empatia.
Ver o seu guerreiro sair para a luta, onde os inimigos são muitos, especialmente, um, invisível aos nossos olhos e outros não, me entristece e, ao mesmo tempo, me orgulha.
Sei que muitos têm guerreiros como esses. Nem todos esses guerreiros pensam da mesma forma, infelizmente. E o vírus agradece.
Só nos resta agradecer que esses guerreiros existam. E aqueles que obedecem às regras que eles nos dão, são também guerreiros, mesmo em um nível mais confortável, mais seguro, mas isso, sem dúvida, os ajudam a conseguir vitórias.
Meu personagem do ano de 2020 é MEU FILHO, um médico lutando a luta devida e aos seus companheiros de batalha.
Fonte da foto: Photo by Jonathan Borba on Unsplash
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