Crônicas

Imagine or imagine

        As duas palavras do título têm o mesmo formato, tanto em português quanto em inglês. Título de uma letra emblemática feita por John Lennon. Eram tempos onde a imaginação corria forte, diante de um mundo caminhando entre a guerra fria de duas potências e os ditadores que pululavam pelo mundo. Era um mundo alegre dentro de um subterrâneo, como se estivesse armazenando alegrias e possibilidades quando a virada acontecesse.
        Aquela geração hoje chegou ou passou dos sessenta e alguns perderam os cabelos em sua cabeça, porém alguns perderam bem mais do que os cabelos, perderam a imaginação de um mundo sem países, sem religiões, sem querer encontrar infernos abaixo dos céus, ou estar em busca de moradas celestes.
       Dessa geração, alguns ainda cantam em inglês, em seus apartamentos, ou ouvem saudosamente os CDs ou vinis, e o piano branco de Lennon ainda martela as possibilidades de um mundo imaginário, onde todos compartilhariam o próprio mundo real. Alguns ainda teimam em acreditar naquele mundo, enquanto outros reinventaram os países e suas fronteiras, se agarraram às suas propriedades, onde a presença do indesejável próximo não seja penetrada. O que nos leva a acreditar que estes curtem a música, mas não entenderam nada.
        Há dois mil anos um Homem tentou um mundo imaginário. Ele falava de uma humanidade irmã. Também Se revoltou contra as religiões e queria compartilhar o mundo no amai ao próximo. Muitos vão às missas e cultos, mas continuam aferrados às suas ideias, “a velha opinião formada sobre quase tudo”, e também não entenderam nada.
       E o que houve com essa geração que veio logo após, criada por pais que amavam os Beatles e os Rolling Stones, cantava Help e abominava o Vietnam, iam aos festivais de música, onde o protesto era a palavra de ordem, e hoje execram seus então ídolos, que continuam, teimosamente, a imaginar o mundo imaginável?
      Pedem ditaduras, choques de ordens, desinventando o imaginário de todas as pessoas vivendo em paz. Você pode dizer que eu sou um sonhador, mas acredite que eu não estou sozinho, eu espero que um dia essa nova geração se junte a nós, os sonhadores, e faremos do mundo um lugar único, com até mesmo aqueles que esqueceram de sonhar.

Fonte da foto: morguefile.com

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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