Crônicas

Gerações mais fracas

          Será verdade que as novas gerações são mais fracas que as anteriores?
         Na verdade, as gerações mais velhas, digamos assim, tendem a valorizar suas conquistas em relação às novas gerações. Seus hábitos são abolidos pelos mais novos e elas veem seus valores desmanchando-se. Isso causa, de certo modo, uma angústia, com a sensação de que o “certo” está sendo abandonado e trocado por uma vida desregrada e fora de propósito.
        As novidades trazem um certo medo, um temor de que o mundo já não seja o mesmo. O mundo, realmente, nunca é o mesmo, por força de uma evolução natural dos comportamentos. À medida que as novas gerações sobem nos ombros das anteriores, a sua maneira de ver o mundo também muda. Querendo ou não, as gerações abrem portas para que outras sigam adiante, e a modernização, em um modo de dizer, se torna contínua e impossível de parar.
        As gerações conquistam pequenas liberdades e quando passam adiante elas se multiplicam, aparentemente, de forma desordenada. E, no fundo, revela que a liberdade plena sempre foi um desejo das gerações, somente que uma censura, específica de cada uma delas, inibe a visão, mas não o desejo de atingir aquela liberdade.
        A tecnologia tem um papel importante nisso, porque abre um espaço na realidade, que era visto somente na imaginação. É impossível não pensar que as gerações não almejem ou almejavam um mundo melhor, livre, sem preconceitos, sem as amarras que amordaçam os desejos humanos.
        A literatura das gerações questiona o mundo, a literatura sempre foi crítica do seu momento. Se imaginarmos Gregório de Matos abusando da sua verborragia contra o regime do seu tempo e vivendo o tempo atual, não haveria nada mais normal nas suas críticas. E a sua aceitação seria plena. Mas, talvez, vivendo aqui e agora, ele seria muitos mais do que isso, ele iria muito mais além.
       Artistas sempre estarão na vanguarda antecipando gerações. E qualquer geração os teve, contidos ou não, censurados ou não. Isso é a prova que não há distinções entre as gerações, apenas medrosos e temerosos em cada uma delas. Até mesmo nas atuais. O medo do porvir é real. E cada vez mais as gerações vão enfrentando esses preconceitos.
       No entanto, a história é cruel quando há um choque de gerações. As ideias ultraliberais e as conservadoras sempre lutaram ao longo do tempo. Normalmente, as forças ditas conservadoras são derrotadas em prol do desenvolvimento humano. Existem momentos que elas resistem e aí podem acontecer movimentos que levem a conflitos.
       Ao longo da história, essas ideias que enfraquecem as gerações são derrotadas e colocadas no seu lugar. As vitórias delas, no entanto, podem, realmente, enfraquecer as gerações futuras. Não existem gerações mais fracas ou mais fortes enquanto existirem personagens que adicionem qualidade e desenvoltura na formação de gerações, preparando o futuro que nos espera.

Origem da foto: Foto de Markus Spiske na Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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