Entre vontades e desejos

23/10/2024 Nilson Lattari

Quantas vezes nós temos vontade de conseguir alguma coisa, de ser alguém, de alcançar um desejo. E desejos são vontades de todos. Será que existe algum lugar-comum entre vontade e desejos? Talvez sim, talvez não.
Primeiro, estabelecer o que é uma vontade causa certa confusão com o desejo. Então, no fundo, são as mesmas coisas – pensando bem, não.
A vontade é apenas uma vontade, um querer sem fundamento. Qualquer coisa relacionada com uma incapacidade de fazer, ter projetos, um objetivo final. É querer simplesmente algo, e não fazer a menor ideia de como alcançá-lo. É um sofrer escondido, um tipo de inveja não manifesta. É olhar o que outro faz e não poder fazê-lo. Você poderia dizer que existe uma força de vontade. Que seria aquele querer manifesto e que você se entrega, chuta os obstáculos, enfim, um obstinado.
Não seria bem assim. Quantas vezes nos deparamos com alguém que tem força de vontade, que faz um esforço hercúleo para tentar alcançar um objetivo. Muitas vezes a força de vontade é tentar o irrealizável. É não viver na realidade, e não encarar o mundo como ele é. É se jogar de peito aberto contra o impossível. Não. Força de vontade não é o bastante para arrastar ninguém à frente. É uma vontade enorme, incapaz de se realizar.
E por isso, é um fato negativo? Sim e não. É uma força sem controle. E aquilo que segue sem controle não é nada.
A força de vontade é um tipo de fraqueza. Algo que enche os olhos, mas não vai mais além do aquilo.
E o desejo?
Bem, o desejo envolve um tipo de amor por uma causa. É imaginar, contemplar e projetar. O desejo trabalha com a realidade, com a possibilidade. Você pode desejar tudo, mas o desejo real é aquilo que está ao alcance. O obstinado segue uma obsessão. O desejoso segue um argumento, algo factível. O desejoso quer, mas aquilo que está ao seu alcance. Não é o querer ser simplesmente. O desejo se imagina lá, naquele lugar que ele almeja. O desejoso não fica na vontade.
Os fortes têm desejos. Eles imaginam o objetivo. Eles não vivem da vontade, eles vivem da realização.
Os fracos pensam e querem. Os fortes pensam e se imaginam lá.