Crônicas

Entre a ambição e a tranquilidade

        O ex-presidente do Uruguai, José (Pepe) Mujica, disse em uma entrevista que não era pobre, era sóbrio. Neste simples adjetivo, Mujica expressou um estilo de vida. A vida simples não é viver pobremente, mas compreender a vida como algo passageiro e não adianta, muitas vezes, ficar correndo atrás de um objetivo inalcançável, vendido por muitos como acessível a qualquer um, basta querer e ponto final.
        Nas palavras, esse querer parece factível, alcançável, e que qualquer um pode tê-lo. Na verdade, ganha muito mais aquele que insufla, através de palestras e livros com fórmulas miraculosas de como vencer na vida, do que, propriamente, aquele que decide colocar mãos à obra e tentar realizar o que o livro ou palestrante diz.
        Diante de todos os apelos ao consumo, realmente é muito difícil escolher entre a ambição e a tranquilidade. Não é confortável ver as vitórias do outro que escolheu o caminho da ambição, ficar quieto no canto vendo a vida passar e curti-la em sua plenitude.
        Também, de certa maneira, não podemos mensurar as coisas que passam na cabeça de um ambicioso, como ele vê a vida, e como está o seu coração.
       O coração é uma porta que se abre para a ambição e, ao mesmo tempo, fecha-a para a tranquilidade. E a propaganda tem muito a ver com isso. Ela insufla em nós a necessidade de ter aquilo que não precisamos e que nos tira a tranquilidade para tê-la.
      Isso não quer dizer que nunca devamos almejar as coisas. Ao contrário, isso quer dizer que podemos tê-las ou não, isso depende das armas que temos nas mãos. Desde que esse esforço não envolva perder nossa alma e nossa paz de espírito.
       Esse é o grande problema da escolha: a paz de espírito. Para alguns é ter tudo que é possível ter, não importam os caminhos que percorram. Para outros é ter o possível, resguardados os limites da tranquilidade e da própria paz de espírito.
      Voltando às palavras de Mujica, a questão da sobriedade é de profundo pensar. Podemos ter tudo, na quantidade exata das nossas necessidades. Ter uma casa, pode ser, simplesmente, uma casa, um lar, um canto, um lugar para chamar de seu. Ter um carro, pode ser, simplesmente, um bom carro. E assim por diante.
      Uma vez li uma reportagem onde um casal de japoneses, ao abrir seus armários, tinha poucas roupas. Na exata quantidade das suas necessidades. E que iam renovando à medida que elas se tornavam usadas em demasia.
      Pensando bem, qual a diferença entre abrir um armário e ter dezenas ou não de pares de sapatos, camisas, calças etc? Não é possível usá-las ao mesmo tempo. E envelhecerão com o tempo, sendo usadas ou não.
       Se formos falar de moda, então!
      Podemos ser ambiciosos e podemos almejar nossa tranquilidade. As duas posições são exequíveis. A questão é saber dar o balanço correto para elas.

Origem da foto: Foto de Mars Williams na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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