Crônicas

Em defesa da igualdade

      Muito se fala sobre igualdade. Muito se fala sobre oportunidades para todos, para que haja um equilíbrio entre as pessoas na disputa por uma vida melhor. Enfim, a saudabilidade da competição, onde todos podem perseguir seus sonhos. Mas será que a igualdade, a real igualdade é apetecível para todos? E se isso acontecesse?
         Imaginemos que por uma artimanha do destino, pudéssemos inventar uma geringonça que desse a todos os indivíduos as mesmas criações, as melhores famílias e as melhores escolas?
       Em um mundo onde o índice de povos à beira da pobreza é infinitamente maior do que outros, poderíamos imaginar se 1% desses alijados da competição fossem pessoas brilhantes. E não podem participar da competição, simplesmente porque não tiveram ou não têm as oportunidades de mostrar e aprimorar seus brilhos ou vivem em condições socioeconômicas que os mantém à margem de tudo.
      Em um país de duzentos milhões de habitantes onde, por exemplo, setenta por cento são pobres, portanto, cento e quarenta milhões de pessoas, se pudéssemos pensar que esse grupo competisse em igualdade de condições, haveria espaço para aqueles que pregam a competição, mas vivem em um nicho fechado que não se abre? É muito mais confortável falar em competição quando ela não é tão acirrada assim ou a concorrência, muitas vezes, não reúne as condições mínimas para tal.
         Esse é o dilema da igualdade. Esse é o problema da liberdade de ser o que puder, falado por aqueles que têm as melhores oportunidades e ferramentas para brilhar.
        Uma das falácias é sobre alguém que teve sorte na vida se posicionar como um vencedor. Nada se compara quando as vidas têm histórias distintas. Além disso, algumas portas se abrem diante da cor da pele, do gênero ou questões sociais. Porque em uma sociedade onde há o racismo estrutural e outras mazelas dividindo países a partir de etnias e preconceitos, determinadas portas não se abrem tão facilmente. Há um julgamento precípuo de que a incompetência faz parte de um tipo genético. E sabemos que não é assim que funciona a vida, mas como funciona a realidade.
       O mundo poderia ser mais brilhante do que é se mostrasse a igualdade como um direito para todos. Poderíamos dizer que a natureza social, digamos assim, se vinga, assim como a natureza que nos cerca. Se o processo genético da genialidade não escolhe a cor da pele, estamos desperdiçando o progresso do mundo. Quando aquele ou aqueles que pregam essa igualdade parcial padecem de algum mal, e pensar que aquele ou aqueles que morrem de fome no mundo, sem as oportunidades devidas, poderiam ser os gênios desperdiçados que descobririam a cura desses males, imaginamos a natureza se vingando da própria humanidade.
       A igualdade é um pesadelo para poucos, e a desigualdade um pesadelo para todos.

Origem da foto: Foto de Clay Banks na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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