Opiniões

E a copa é do mundo?

        O mês de julho de 2018 é a Copa do Mundo, o encontro das grandes seleções de futebol do planeta. É tempo de festa, ruas coloridas, muita camiseta amarela nos corpos. Será?
        Durante muitos anos misturamos a pátria com as chuteiras, noventa milhões em ação, a política se valia das chuteiras dos craques para uma autoafirmação do país. No entanto, a realidade não corresponde aos fatos. Aquilo que nos unia, ou nos fazia unidos se desfez no ar, quando, realmente, a política, no seu lado prático das ruas, tomou posse da camisa amarela como uma postura, visivelmente dentro de um país dividido. O comércio acusa que a camisa azul, no Brasil, já vende mais do que a amarela. A justificativa de um lojista é de que um lado não quer ser confundido como o golpista, e o outro pelo mesmo motivo. A camisa amarela voltou a unir o povo, que assim como o presidente muitos não querem. O amarelo, de fato, passou a ser o mote: se todos os gostos fossem iguais, o que seria do amarelo? De ouro passou a ser vergonha, ou em palavras suaves, o constrangimento.
        E a copa que sempre julgamos como sendo nossa, apenas, transitoriamente, ficando na posse de outros, veio ao encontro do completo desinteresse por ela, e, portanto, a copa agora é do mundo. Não se veem muitos brasileiros andando pelas ruas usando a camisa. Nem parece Copa do Mundo. Fica a impressão que a seleção foi desclassificada na fase eliminatória.
        Mudamos? Vamos mudar? Enfim o nosso interesse de ver a rede balançar não será mais tão grande como os nossos corações aflitos aguardando o Brasil ser chocalhado, esperando o resultado de novembro? Será outro sete a um?
        Já foi dito que no Brasil nem a máfia deu certo. E agora a copa entra nesse rol, o sete a um ficará em nossas lembranças, assim como o Uruguai na década de 50.
        Um povo demonstra sua capacidade de mudar quando as perspectivas mudam, quando o foco muda, quando as importâncias mudam. Finalmente, estamos descobrindo quem somos nós? Muito difícil responder. A bola já está rolando no Brasil, e ela não é redonda, está quadrada, difícil de rolar pelo gramado.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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