Crônicas

Demoiselle

        Nomes são representações interessantes, principalmente quando eles nos lembram algo perdido nas lembranças da infância, um acontecimento na juventude e essas coisas.
       Pipoca, por exemplo, tem uma ligação com a infância. Já adultos, quando sentimos aquele cheirinho peculiar se espalhando nas entradas dos cinemas, nos circos, em eventos na rua, ou mesmo quando voltamos para casa, nas paradas de ônibus, local estratégico para aquela fome que já vem chegando, percebemos quanto é prazeroso voltar a mastigar aquelas pelotas e a boca se enche daquele sabor de coisa eterna. Aquele pacotinho quentinho, com a consequente queda no chão de algumas delas, por conta do exagero do pipoqueiro.
       Outro é o Conversível, um modelo de carro que lembra a rebeldia, um carro cheio de garotas, alegria na ida para a praia. Está ligado a uma adolescência sem causa, mesmo que, em tempos “rebeldes” não houvesse dinheiro suficiente para adquiri-lo. Mas, o carro conversível, capota aberta, pelo menos, era o sonho de cada um, quando jovem, e ao possuí-lo, por qualquer motivo feliz, mais adulto, é, sem dúvida, uma espécie de status, uma forma de voltar a ser jovem, mesmo que os cabelos brancos é que estejam ao vento. Mas, possuir um conversível era algo mágico, como um tapete voador.
        No entanto, eu guardo um nome em especial. Um nome que me faz lembrar, não sei por quê. Também uma relação com a magia, que não existe na língua portuguesa, algo doce, especial.
       É um nome francês – Mademoiselle. Isso. Mademoiselle, a senhorita em francês, até porque pela entonação, pelo requinte da língua francesa, uma cultura que me faz lembrar o romantismo, o erótico, mademoiselle me traz algo doce na boca, alguma coisa ligada a uma guloseima, não sei se uma relação fonética com os nomes, acho que, com certeza, não há relação na língua francesa. Mas, mademoiselle tem um sentido de afetação, como se uma mademoiselle não fosse uma senhorita qualquer. Um requinte ao se referir a uma menina:
        – Mademoiselle, mademoiselle.
        Também existe demoiselle onde a origem do nome vem do grego, de Demóstenes, e significa, nos casamentos, a amiga mais íntima da noiva.
      Por sinal, que um dos aparelhos pilotados por Santos Dumont foi chamado Demoiselle, mais no sentido da acompanhante, da libélula, uma relação mais afetuosa.///

Fonte da foto: Internet

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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