Crônicas

De quem é o mundo?

        Quando chegamos à vida, encontramos um mundo pronto para ser refeito, reconstruído ou, simplesmente, é o que tem para se viver!
       Muito ouvimos dizer sobre o mundo que herdamos de nossos pais, com suas conquistas, derrotas e retrocessos. E a missão daqueles que chegam é preservar o que há de bom e continuar a produzir um futuro melhor para os outros que virão.
     Pensando bem, isso é uma utopia. Imaginar que as gerações sempre avançaram rumo ao mundo melhor, não o mundo perfeito, mas melhorado e mais preparado para uma vida saudável das gerações seguintes.
       No entanto, as gerações que chegam esquecem a história as agruras, os problemas, e as situações de risco são apenas páginas de um livro de história. Não há palavras que definam os problemas sofridos. Os filmes se encarregam de romantizar aquilo que é nefasto para a vida.  Criam-se heróis de cinema e os heróis verdadeiros são esquecidos ou nem sequer saberemos que foram heróis.
     Se pensarmos, objetivamente, não herdamos coisa alguma de ninguém. Na verdade, roubamos o mundo dos nossos filhos. Quando colocamos ideias falsas, falsos argumentos ou construímos fantasias estamos roubando o mundo deles, dos nossos descendentes, que acabam de chegar ou vem ocupar o mundo depois de nós.
      Se cultivamos a ambição e procuramos na história as justificativas para ela estamos transmitindo às próximas gerações uma forma de vida, completamente desproporcional e desumanizada. É nesse ponto que roubamos o mundo dos nossos filhos. Porque não lhes damos a oportunidade de viver em um mundo melhor. Nós nos encarregamos de destruí-lo. E na verdade nós o destruímos quando não transmitimos aos nossos filhos os verdadeiros ideais de vida. Nossa ganância e ambição se encarregam de esconder qualquer possibilidade de ensino.
       Somos os professores daqueles que chegam. Se os criamos em um ambiente familiar ou de grupo cultivando o preconceito nós roubamos o mundo dos nossos filhos. Quando apregoamos que a vitória deve vir a qualquer custo, nós estamos roubando o mundo dos nossos filhos.
      A construção da sociedade exige uma dose de altruísmo. E vivemos como se nos vingássemos de nossos antepassados, que não fizeram o serviço na forma correta.
      Desde que o mundo é o mundo, o homem vive desconstruindo-o, falsamente encoberto nas conquistas da tecnologia. Somos bons em criar um mundo artificial, com leis que preservam privilégios e perpetuando o poder para poucos. E perpetuamos esse poder quando desejamos ser igual e ter o mesmo poder para controlar o mundo dos nossos filhos. E esses continuaram o processo, até que não reste mais nada para viver. E a pergunta continua a mesma: de quem é o mundo? E que mundo é esse que se quer ser o dono?

Origem da foto: Foto de CHUTTERSNAP na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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