De onde tiramos as lições de vida
Há um provérbio chinês que diz que as abelhas e as vespas sugam as mesmas flores mas não sabem encontrar nelas o mesmo mel.
O mundo é heterogêneo em muitas coisas. As diferenças convivem nos mesmos espaços ou têm um espaço reservado para cada uma delas. Não dá para separar o mundo em vários pedaços. Estamos todos no mesmo barco azul que vaga pelo espaço, e ele pouco está se importando com quem está dentro. Se alguma coisa mudar, o mundo continuará girando e vagando pelo mesmo espaço escuro. Se não for um globo azul, será de uma outra cor, com a vida que esteja dentro dele.
As pessoas são heterogêneas. Pensam de maneiras distintas sobre as suas vidas e sobre a vida em geral. Ideias se debatem, se encontram, lutam e pensam que constroem um mundo melhor, dentro de suas cabeças.
Mentes são capazes de ver as mesmas coisas e chegar a diferentes conclusões. Nossas lições de vida vêm desses embates. Nossas lições de vida vêm da observação, da discussão, da ignorância daqueles que as têm por demais esdrúxulas e por aí vai. O mel das flores é o mesmo para todos. No entanto, para alguns é apenas um extrato que se pode usufruir, sugar até o extremo e conseguir alguma coisa em troca. Para outros, o mel é para ser saboreado e vivido por todos no mesmo espaço.
Alguns trabalham para o que o mel se transforme em muitas coisas ou, simplesmente, o sugam para satisfazer o seu prazer pessoal. Outros o recolhem, guardam e o consomem no futuro.
Em ambos há riquezas. Tanto no acumular quanto no consumir.
As flores são muitas e os insetos também. No entanto, o mel é o mesmo. E é essa ideia de comunidade, de distribuir o mesmo bem para todos, aquilo que nos divide.
Todos sugam o mesmo mel mas sentem sabores diferentes. E fazemos isso com nossa casa azul, enquanto vaga pelo espaço. Não tiramos lições de vida no medo de que esse mel onde habitamos se acabe. Tiramos dela lições para continuar vivendo, todos, sem exceção. Até mesmo aqueles que lutam para não preservar a vida sempre tirarão lições de vida. O mel é o aprender sempre. Alguns para todos, outros para poucos.
Ao sugar o mel da nossa terra, sentimos sabores diferentes: da ambição, da cobiça, do prazer e da preservação, para que esse mel nunca se extingua.
É importante dizer que vivemos na mesma terra, mas não sabemos tirar os mesmos prazeres dela. Uma parte de nós quer viver o tempo na terra como se fosse um viajante despreparado a empreender uma viajem. Outra parte de nós quer viver o tempo na terra para que outros, no futuro, venham a usufruir dela. É como repassar o legado para os descendentes.
Vespas e abelhas nunca construirão o mesmo abrigo, mas precisam das mesmas flores e sempre precisarão delas. Nós, habitantes deste planeta, vivemos em um mesmo abrigo que nunca construímos. Mas podemos acabar com ele, mesmo precisando dele para viver.
ORIGEM DA FOTO: Foto de Craig Strahorn na Unsplash
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