Análises de leituras

Cuatro estaciones en la Habana

        Cuatro estaciones en la Habana é uma daquelas pérolas que ficam escondidas no Netflix. Comparando com outros regimes fechados, como, por exemplo, a Coreia do Norte e mesmo a China, Cuatro estaciones é uma abertura em relação ao regime cubano. É surpreendente por uma autocrítica da Cuba nos primeiros anos do regime de Fidel Castro, baseado no texto de Leonardo Padura (Vientos de Cuaresma), usado pelo protagonista quando o primeiro diálogo do filme inaugura a trama: “Son los vientos de cuaresma”.
      É uma retomada daqueles anos onde a dureza do regime pela própria necessidade da imposição de uma nova forma de sociedade, e não por isso desnudado dos desmandos próprios de regimes totalitários.
Conde, o personagem principal, é um detetive que vive recluso e da sua reclusão não se deixa levar pelo princípio de que os habitantes de La Habana não têm a sua sensualidade mostrada à flor da pele, muito pelo contrário.
      Entre os lençóis que o detetive encarregado de elucidar crimes que envolvem uma nata da sociedade, que escondeu roubos perpetrados no passado, principalmente pelos membros do regime saqueando a população mais rica que então vivia naqueles primeiros tempos, e abandonaram a ilha em direção ao império Yanque, a atividade do policial vai percorrendo caminhos entre a busca da verdade e uma tentativa de encobrimento do regime acerca do seu passado.
       Os assuntos vão desde as primeiras censuras, desde o dramaturgo que foi execrado pelo regime, perpassando pelo tratamento que os gays receberam, e hoje vivem em um lugar na cidade, vivendo sua normalidade ou uma aceitação branca – no filme não se fala sobre alguma repressão, dado que se passa nos anos noventa, além do abandono da ilha em direção aos EUA, representado por um médico, formado pelo estado em busca de coisas mais ambiciosas, não satisfeito com o tratamento que ele recebe, a se despedir dos velhos amigos.
        A fotografia é primorosa, o ponto alto do filme. A La Habana Vieja aparece em um esplendor de decadência, com os edifícios e casas do tempo em que uma elite econômica dominava a ilha, mas, ao mesmo tempo, romântica e em estilo noir. Os carros, os símbolos do tempo que ficou parado, aparecem na primeira cena, onde o personagem se oferece para a troca de pneus de um deles, em uma ajuda na troca de olhares entre o personagem e sua primeira amante.
        O filme vale por vários motivos: a filmografia, a autocrítica e a escrita por um grande autor (O homem que amava cachorros), mostra que Cuba, mais do que nunca, está pronta para a abertura, com uma cultura forte o suficiente para ocupar um lugar de ponta no mundo, e sem medo de mostrar o que o passado deixou de herança.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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