Coragem, destemor e tonterias
Se conhecemos muito bem uma estrada, por onde passamos muitas vezes de carro, decoramos suas curvas, sabemos onde estão as paradas, os melhores pontos de ultrapassagem, poderíamos pensar que viajamos com total segurança. Essa forma de pensar é errônea. Porque aquilo que julgamos conhecer muito bem, na verdade se torna uma armadilha. O excesso de confiança não leva em consideração que a estrada pode sofrer danos estruturais e podem esconder surpresas. Logo, aquilo que mais conhecemos nem sempre é o que pode nos dar segurança.
E isso vale para qualquer coisa na vida. Se achamos que sabemos muito é sinal de que não aprendemos nada. Nem sempre saber com extrema acuidade define o nosso nível de aprendizagem; de saber lidar com o previsível e o imprevisível.
Seria mais ou menos como dizer que quando não achamos que podemos morrer, aí sim estamos mortos.
Claro que o corajoso tem uma dose de destemor e, também, uma dose de loucura. São dois ingredientes primordiais para alcançar alguma coisa. Porém, falta uma dose de sabedoria para entender o momento, que seria de ser corajoso, ser temerário e um pouco sem noção para fazer isso. Podemos saber muito sobre o assunto, mas uma dose de aprendizagem, de estratégia diante do velho, nos ensina a enfrentar o novo.
Até as críticas devem ser enfrentadas com uma dose de coragem, combinadas com os outros dois ingredientes. Fazemos determinado movimento que nunca sofreu críticas de alguém, até que, em um determinado momento, alguém vai apontar uma falha, apresentar um ponto que passou despercebido. E nos leva a refazer tudo. Planejar, organizar nem sempre foram garantias de sucesso. Um gato se organiza para dar um pulo. Calcula o seu peso, coloca a sua cauda em uma posição chave, que só ele entende e aprendeu, colocar as patas traseiras na posição mais confortável e impulsiona o salto. Tudo foi feito para dar certo, e pode não acontecer isso, e a consequência é a queda.
Não somos infalíveis, mesmo que tenhamos feito os atos repetidas vezes. A repetição leva à perfeição, mas devemos saber que a perfeição não existe, porque sempre o imponderável pode acontecer.
O cauteloso não deixa de ser corajoso, não deixa de ser temerário e guarda um pouco da loucura para o momento crucial. O cauteloso sempre examina ao redor de si mesmo, porque nós não somos os mesmos todos os dias. Dias são diferentes e nós somos diferentes a cada dia.
Somos surpreendidos, algumas vezes, com o fracasso de alguém em determinada prova, ao desenvolver um projeto, enfim, qualquer coisa da atividade humana, e não acreditamos que aquele ser, que executou a tarefa tantas vezes, fracassou. O cauteloso trabalha com a falha, que pode acontecer nunca. O temerário não se importa com ela, porque confia no passado. O louco não pensa e nunca imagina o imponderável.
O corajoso, bem, o corajoso tenta sempre, e, sábio, guarda dentro de si a cautela e a experiência do aprendizado.
Origem da foto: Foto de Liam Simpson na Unsplash
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