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Concurso Literário Big Time 2013

     Mais uma vez, uma crônica, com o tema baseado em observar, um dia, os crachás das funcionárias de um supermercado e ficar curiosa com a criatividade dos nomes.

BABEL DE NOMES

     – Muito obrigado, Laurilene.
     A caixa do supermercado, exibindo um reluzente crachá no peito, agradece, sem demonstrar surpresa com o cliente se dirigir a ela dizendo o seu nome.
     Nesse mundo de hoje, o que antes ficava oculto, agora é passado pelo crachá. Você olha para alguém, olha o crachá e lá está o nome. E nós começamos a descobrir como anda a imaginação dos pais. Antes, você contatava alguém e perguntava:
     – Qual o seu nome?
     E vinha a surpresa. Um nome comum, ou uma composição de nomes…
     Laurilene é um desses nomes que, em geral, assume essa junção de pai e mãe. Hipoteticamente, poderíamos arriscar e perguntar.
     – Laurilene, você me desculpe a intromissão, mas de onde nasceu esse Laurilene?
     – Ah, moço, minha mãe é Francislene e meu pai Laurindo.
     Possivelmente o Francislene já seria uma outra junção. E nessa cadeia de DNA de nomes poderíamos arrancar uma verdadeira árvore genealógica.
     A professora, por exemplo, solicita a presença na ficha de chamada do Michael, como em Michael Jackson. O garoto responde.
     – Ih, professora, meu nome não é esse não. O meu nome é “Mixael”.
     Vocês podem dizer que é preconceito. Mas não é não. Aliás, nessa história de nome, o mais interessado não opina. Fica lá o pequeno ser humano exposto aos preceitos artísticos de outro. Só lhe resta se vingar no próximo. No caso, o próprio filho.
     – Mãe, de onde você inventou meu nome?
     – Ah, eu tinha uma colega de trabalho, apaixonada por um tal com esse nome, sendo que o sujeito era um pouco cafajeste. Ela vivia chorando pelo tal. Um dia eu cheguei com você no trabalho e disse: Fulana! Olha o fulaninho aqui!
     – E ela gostou?
     – Não sei até hoje, ela não parava de chorar.
     – Aí, a senhora deu o meu nome por causa dela?
     – Foi.
     – De um cafajeste?
     – É.
     Com certeza, quando a mãe o chamasse de cínico, sem-vergonha, tudo faria sentido.
     – Muito bem, qual vai ser o nome do bebê?
     – Alex. Na verdade, ia ser Alexandre, mas como o apelido ia ser Alex mesmo, já coloquei tudo certo, tudo no lugar.
     – Meu bem, vamos chamar nosso bebê de Francisco.
     – Ah, não! Negativo.
     – Mas por que, não? Era o nome do meu pai!
     – Exatamente por isso. Vai começar como Francisquinho, Chiquinho, e depois que ficar velho, engordar, e ser dono de bar, vai virar Chico. Definitivamente, não. Põe Fernando. Pensando bem, também não, vai virar Nando.
     Ô coisa difícil.
     Um sujeito chega ao cartório e registra o nome de seu filho.
     – Qual o nome do filhão, fala com simpatia o funcionário.
     – Ele é Valdir, diz o pai.
     O pai sai orgulhoso do cartório e vê o registro do seu filho, e nele consta: Elevaldir.
     Registrado, carimbado e sem possibilidades de reclamação. O sujeito tem o filho e quem dá o nome é outro.
     Tive uma amiga que chegou ao trabalho e disse em alto e bom som.
     – A partir de hoje quero que vocês me chamem de Elsa (o seu nome original era Elsa, mas com som de Z).
     Todos se entreolharam e perguntaram.
     – Mas, por quê?
     – Porque estou fazendo a faculdade de Letras e descobri que se Celso é com S e não se pronuncia Celzo, por que o meu tem que ter o Z? Negativo.
     – Mas não tem nada a ver uma coisa com outra. Você está fazendo uma sopa de letras de Filologia e Linguística.
     E ninguém a convenceu. Como a maneira como nominamos alguém tem a ver com a ideia que fazemos desse alguém, como por exemplo, Carlinhos, pelo jeito carinhoso, ou Carlão, um cara grande, ou um grande cara; nossa amiga passou a se chamada Madame Elsa (respeitando a ausência do Z). Uma pessoa diferente, meio metida.
     Outra coisa bem legal é o Maria. Tem muitas. Maria de todos os tipos e maneiras. Muito além daquelas paragens por onde Maria apareceu. Ela aparece, pede socorro, consola, vai à glória, anuncia, vai de Portugal para a França e depois decola até o México.
     – Meu nome é Maria.
     – Maria de….
     – Não. É só Maria.
     – Não pode.
     – Mas não tem não, moço.
     Pensando bem, é de uma originalidade!
     – Quero falar com o sujeito que fez a minha encomenda.
     – Ah, foi o Júnior. Ô Júnior tem um cara querendo falar com você!
     Aí você vai pensando: “Deve ser um molecote. Ele vai ver só. Parar de fazer os outros de bobo!”.
     Aparece um sujeito grande como um armário.
     – E aí, chefia, o que que manda?
     – Não, seu Júnior, acho que teve um equívoco aqui, e tal…
     – Ih! Esse problema é com o Gatão.
     Você imagina logo um sujeito bem apessoado, um galã. Aparece um sujeito calvo, com um barrigão, um andar lento e sonolento.
     – Aí, doutor, diz o tal Júnior, não é um gatão? Pois é, esse andar macio, meio de lado. Não é de um gatão?
     Nunca tome o nome pela pessoa. Por exemplo, Lula pode não gostar de peixe. Fernandinho, necessariamente, não precisa ser uma pessoa dócil. Fofão não é, necessariamente, fofinho ou fofinha, um amor de pessoa. Sansão um careca, ou um ex-careca.
     Mas não nos esqueçamos da nossa Laurilene.
     – Agora, falando sério, Laurilene, de onde apareceu seu nome?
     – Olha, moço, são os dois nomes das melhores amigas de minha mãe: Laura e Selene. Mas aqui entre nós, li no seu cartão de crédito que seu nome é Orozimbo. Pensando bem, ninguém merece!

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura