Crônicas

Coisas simples

        A procura para a fórmula do bem viver é uma constante. Vários livros, as consultas aos especialistas no assunto, querendo todos buscar a saída para a felicidade como a busca do tesouro perdido: ela existe, está em algum lugar. Resta saber qual a rota, o guia espiritual ou não que vá na frente desbravando os caminhos.
        Entendemos que somos livres. Livres para escolher quase tudo: para viajar, um lugar para viver e um amor para acompanhar nossas vidas. Somos livres e ao mesmo tempo prisioneiros das nossas limitações econômicas (emprego, ganhos financeiros), físicas (algumas vezes doenças, deficiências), ou, simplesmente, preguiça, ligações afetivas (filhos, mãe, pai, esposa). Somos livres e presos ao mesmo tempo.
        O que fazer?
        Talvez, em vez de esperar que o mundo se abra para nós, devemos nos considerarmos abertos para ele.
        No lugar da crítica ao semelhante, querendo colocar nossas experiências individuais como modelos, contadas através das nossas dificuldades em vencer na vida, devemos entender que essas experiências não podem ser colocadas como modelo do coletivo, antes de tudo, respeitar as limitações do outro, tanto geográficas, físicas, emocionais e econômicas: compreendê-los.
        E também não imaginar que aqueles que estão à nossa frente possam servir de modelo para nós – são experimentações diferentes.
       Passamos toda a vida a evitar os perigos de viver em sociedade. Criamos estratégias, somos habilidosos para contornar problemas, ruas escuras, ou conversas estranhas com estranhos que se aproximam. Prendemos nossas bolsas e documentos junto ao corpo, somos defensivos. É essa a nossa liberdade. Sempre evitamos o maravilhoso à nossa frente porque enxergamos o perigo latente, presente em nossos cotidianos.
      Alguns dirão que são pensamentos positivos, somente, o grande truque para a felicidade. Que basta pensar positivamente que conseguiremos alcançá-la; essa felicidade! Nem sempre deveríamos evitar o tudo que vem pela frente. Não devemos evitar o amor, sendo o amor pelo próximo, pelos animais, pelas paisagens que temos diante de nós, também uma das muitas formas de amar e nem evitar a expressão dos nossos sentimentos.
      Quem tem a mente aberta para o mundo, amando com a mesma intensidade a si mesmo e ao outro e aos seus espaços e histórias, pode estar próximo da felicidade, que existe nas coisas simples. Uma saúde mental em sintonia com o seu tempo de viver.

Fonte da foto: morguefile.com

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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