Celebridades e indiferenças
O nosso momento é outro. Se imaginarmos algum tempo atrás, onde convivíamos com diferenças pequenas, apenas relativas sobre a direção que o nosso país deveria seguir, detalhes que nos levavam a discussões, até mesmo amenas, em relação aos nossos dias atuais, nos perguntamos, agora, onde fomos parar.
Tivemos descobertas, e elas não foram surpresas agradáveis. Pelo contrário, tivemos descobertas que nos trouxeram decepções. É claro, que essas decepções pertencem, somente, a um lado. Para decepcionados existem, no lado oposto, decepcionantes? Penso que sim, a partir, sempre, da visão unilateral dos decepcionados.
Nos decepcionamos com amigos de longa data, e nos decepcionamos com aqueles donos de uma lírica que nos embalou ao longo desses anos.
Estabelecer uma relação entre a arte de um determinado artista ou artistas, que nos encantaram por muito tempo, nos tornaram ouvintes, espectadores, repetindo as mesmas frases, imaginando que, por detrás daquela lírica, existia um personagem que extravasava, através do seu trabalho, um ser humano fora do comum, foi inevitável. É a busca do ser humano por respostas.
Para uma parte, decepção, para outros, vitórias. Não quero estabelecer o certo nem o errado. Porque se configuraria em um debate semântico. Falo do humano e do desumano.
A arte não imita a vida, a arte esconde uma vida por trás de rabiscos alegres, poesias deslumbrantes. Resta saber se elas foram feitas com o objetivo de atingir os corações de alguém, ou, simplesmente, se servir da arte para ganhar dinheiro.
Depositamos, muitas vezes, em artistas de grandes projeções, esperanças de que eles sejam porta-vozes de algumas das demandas nossas.
Deve um artista ser responsável pelas demandas da sociedade? Deve um artista ter uma posição política clara, e, no caso, política pura e simples, colocando sua arte, sua imagem a serviço dela?
Penso que não. O artista é um ser humano autônomo. Ele pode ter sua posição política, pura e simples. Política!
No entanto, a política se envolve com a humanidade, e quando ela se envolve com o humano ela se complica. Ninguém pode esquecer aqueles que ficaram por baixo, que foram deixados pelo caminho. Castro Alves criou um belíssimo poema sobre a desumanidade da escravidão. Poderíamos imaginá-lo como favorável a qualquer outro tipo de servidão?
Erick Clapton, um artista da guitarra, em um show, na Inglaterra, se declarou xenófobo, dizendo às pessoas que estavam em sua apresentação, se não fossem brancos e ingleses, que se retirassem daquele espaço e do país, e pediu desculpas de seu comentário racista, quarenta anos depois.
Quantos artistas em nosso país abordam o romantismo, a beleza dos espaços, da natureza, e se dão braços e abraços com quem convive com o contrário disso tudo?
Pessoalmente, fiz a separação dessas coisas. Como amante da arte da palavra, não consigo conceber a beleza das metáforas e das imagens separadas da humanidade e do sentimento de fraternidade. A beleza, segundo Paul Valéry, reside no espanto, no impacto do grandioso. Construir lirismo dentro de uma visão tão pequena de mundo, são coisas incompatíveis com humanidade.
Fonte da foto: Photo by Jackson David on Unsplash
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