Crônicas

Casar ou ficar solteiro?

        A vida de solteiro tem seus benefícios… e a vida de casado também. No entanto, não é uma questão de escolha consistente, afinal o coração encerra razões que nós desconhecemos. O coração nos leva por caminhos desconhecidos, seja em busca de uma aventura, seja em busca de paz e tranquilidade.
       As redes sociais apresentam casais vivendo uma cumplicidade que pode existir ou não. Afinal, nas redes o que se mostra não é bem o que se vive. São os sorrisos eternizados em retratos, escondendo ou não fatos que desconhecemos.
         A vida solitária não é fácil e brilha durante as festas, comemorações e nas viagens. Depois, o pseudo pássaro livre se encerra no seu quarto ou em sua casa e deixa o mundo seguir lá fora.
        A bem da verdade, uma vida em casal obriga a responsabilidades, não é mais uma questão de querer fazer alguma coisa, tudo depende do que o outro pode dizer e interferir. Muitas vezes, as amizades mudam de lugar, e os antigos companheiros ou companheiras de vida alegre se distanciam. Porque aquele que casa não pode se comportar mais do mesmo “jeito”. Há uma questão de aparências, de mudança de realidade.
        Nesse campo, entra a questão do amor como força imprescindível, vibrante. Mas o ódio, seu oponente, também é uma força a se considerar. Haveria uma diferença mais além das palavras? Uma vez ouvi que o ódio une mais do que o amor. Haveria razões para essa afirmativa? Quando odiamos uma pessoa ou uma questão em comum une duas pessoas, o ódio tem a capacidade de unir forças para barrar ou enfrentar o inimigo. Portanto, o ódio é mais concreto, é real, não vive na imaginação. Ao contrário, o amor vem da paixão e a paixão é fugaz, logo o amor também é.
         Seria o amor romântico fabricado, algo engendrado pela literatura ou pela arte como objetivo a atingir? Teríamos o amor, a paixão, aqueles sentimentos que aproximam dois seres, motivados por uma ânsia da vida. O amor romantizado, idealizado, feito para a eternidade na terra seria uma construção de uma sociedade que tem a visão cristã da família? Esse romantismo seria a liga que mantém a base da sociedade, e o amor romântico difundido como a quintessência da união entre dois e nada poderia dissolvê-lo? Buscar o amor com romantismo tem uma diferença para o amor, simplesmente? O solteiro ou solteira não veem o amor como romantismo, mas uma busca pelo outro? E o casado ou a casada, podem viver esse romantismo, enquanto ele dura?
         O amor solteiro pode amar quanto se quer, de uma vez cada ou várias ou vários ao mesmo tempo. Afinal, o solteiro é um ser sem dono e manda no seu destino do jeito que quer.
       O problema do amor solteiro não está na solidão do presente, mas na solidão do futuro. Viver só, ainda na flor da juventude, inserido na sociedade, um ser competitivo e atuante pode dar lugar a alguém, no futuro, alijado de tudo isso, vivendo com suas recordações. Os amigos envelhecem, se casam, criam as suas estruturas e o solteiro convicto pode se tornar, realmente, alguém solitário, o clássico solteirão ou solteirona.
        A mulher pode ter a prerrogativa de uma produção independente, criar um ser vindo dela. Ao homem, restará uma adoção, e uma adoção de um homem solitário é bastante complicada. Mas a adoção, também, pressupõe uma estrutura familiar, para ambos.
       Problema complexo. Uma difícil decisão. Casar ou não casar, eis a questão.

Origem da foto: Foto de ManuelTheLensman na Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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