Belo, sempre belo
Nunca me canso de falar sobre o belo. Não porque vejo a beleza como um objeto estético para ser admirado. Fujo sempre dos lugares comuns, porque a beleza está muito além disso, de uma definição estática e pueril, e, muitas vezes, presa aos estereótipos ocasionais.
Chamo de ocasionais quando a propaganda ou a mentira do momento apontam para um tipo de beleza, principalmente agregada ao corpo tanto feminino ou masculino. É um tipo de beleza ligado a um tipo de corpo, adequado a uma moda ou qualquer coisa do tipo.
Mas é fato, algumas vezes a beleza vai ser representada por alguns corpos que antes eram vistos como a serem desprezados ou ridicularizados, ligados a fobias de fácil explicação e difícil entendimento. Até mesmo a tal beleza interior tinha um tipo de condescendência para plastificar o que, esteticamente, não seria aceitável.
E é nesse ponto que gostaria de falar da beleza. A beleza que jaz escondida e se expande no seu significado. Se colocarmos a beleza em uma definição qualquer, enquadrá-la em algum molde específico, a própria beleza perde o sentido. A beleza se reserva a um esplendor, e se estabelece em um tipo de ordem. Seria como uma sucessão de fogos de artifício que nos surpreende na noite, com seus estampidos que nos obrigam a olhar para o céu.
Essa seria uma boa explicação para a beleza. Um tipo de atração que desvia o nosso olhar. Poderia dizer que existe uma beleza na tragédia. Na natureza, por exemplo, a explosão de uma tragédia, a beleza está reservada na sua força descomunal diante dos obstáculos. Na exibição dos corpos afastados da estética aceita, a beleza está na própria exibição e desinibição ao mostrá-los. A própria revolução em seu momento de distrato social, a correria pelas ruas, o medo que nos traz, e os ventos da mudança, uma esperança por um novo mundo, tudo isso está enquadrado na beleza. Na beleza da história, do momento, da luta e na bem-vinda vitória.
Por isso, a beleza transcende a sua própria definição. Está presente em todo lugar, no drama, na tragédia, na comédia e na vida comum. O horror da guerra, na figura estética do medo, significando a própria impotência, esse temor nos traz um tipo de beleza interior que nos transforma. Porque diante do infortúnio, diante de um quadro que traz a aura da história em sua volta, tudo pode ser traduzido como beleza.
E quanto à ordem?
Não se trata de tentar organizar a beleza com enquadramentos ou regras. Muitas vezes a tentativa de organizá-la deste modo envolve um interesse comercial ou pessoal. Não, a ordem está nesse sentido de que devemos enxergá-la em todos os lugares, nessa desordem da beleza que nos desorienta. Ela está nesse esplendor que uma determinada ordenação a destina. Há um processo, uma ordenação. O espanto de ouvi-la, vê-la e entendê-la e depois a tentativa de identificá-la. E no final, no esplendor de poder descobri-la onde ninguém mais consegue vê-la.
Origem da foto: Foto de Peter Kalonji na Unsplash
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