Crônicas

Autoelogio

      Nossa sociedade, pode-se dizer, vive o Narcisismo, não olhando a própria face no espelho d’água, ou depois da chuveirada no espelho do banheiro. O Narcisismo está espelhado nos textões, ou nos textinhos que são exibidos nas redes sociais.
        Seria como um Narcisismo às avessas; exibe-se o que não tem, a partir de considerações que não existem em lugar nenhum, apenas o eco vazio das cabeças que acham conter algum conhecimento.
        Nosso Narcisismo é o Achismo em alto grau de depravação intelectual.
       O Autoelogio está implícito quando não se reconhece o erro, mantém-se o erro, escondendo a cara vermelha de vergonha por trás do anonimato das redes. A Internet encontrou o vírus ou se tornou o vírus destruidor dos nossos sonhos inalcançáveis. Inalcançáveis porque, hoje, tendo em vista o espalhamento global das ideias sem fundamento, baseadas no achismo narciso, vai gerar, implacavelmente, na divisão do mundo entre os que estudam, os que não estudam e os que acham que estudam, preenchendo sua intelectualidade com fragmentos contidos em memes. Processos concisos de ideias sem sentido. O meme responde a todas as perguntas, para quem não quer respondê-las, apenas criar a confusão.
       O Narcisismo atual se resume a responder questionamentos fundamentados em retiradas de peças da narrativa do oponente, e respostas rasas com memes rasos.
        O “estudioso”, o “especialista” se contorce para comprovar o improvável, apenas porque se autoelogia, guiando um grupo de insanos e zumbis, gerando valor para si mesmo, alimentando a idiotice em busca de justificativa para comprovar o eco dos seus pensamentos.
        O mundo não é cruel, a História não é cruel, cruel é a vontade de não entender o mundo e não aceitar a História, quando ela não concorda com o Narcisismo do achismo, quando ela não vai ao encontro do mundo ideal de cada indivíduo.
     O Narciso pós-moderno se olha no espelho do achismo, se autoelogiando por dizer coisas que não entende, logo, ele não se vê para se autoelogiar e admirar, ele vê uma outra pessoa que não é ele, mas que ele gostaria que fosse.
       E nada melhor do que o anonimato que esconde dos outros a vergonha que poderia sentir. Se não gosta do que ouve como resposta, ele cancela, e passa para um outro espelho onde possa se ver como ele se supõe ser.
       O problema do Narcisismo pós-moderno é que as bolhas de autoelogio se encontram, e passam a se admirar, sem perceber ou percebendo que o melhor espelho para esse Narciso é o autoelogio que as bolhas fazem de si mesmo.
       Narciso pouco se importou com a opinião de outros, contentou-se com ele mesmo. O Narciso pós-moderno precisa do outro para convencer a ele mesmo que está certo, ou, pelo menos, o que ele desejaria que os outros pensassem sobre ele.

Fonte da foto: Photo by Kenzie Kraft on Unsplash 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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