Opiniões

As certezas… essas incertezas

        Uma das formas mais contundentes no discurso é a afirmativa, a contundência sobre o destino das coisas. É afirmar com grande convicção que algo vai ocorrer, caso não se faça uma medida contrária. Para toda causa existe uma consequência inevitável, e cabe a cada uma das partes – e sempre existirão partes – pregar o caos ou a bonança.
        Uma das certezas que mais assusta é a certeza que os tais mercados apontam as situações como inevitáveis.
        Esse é o mundo das certezas com incertezas. Vocês devem concordar comigo que o mercado, o tal mercado, mesmo representando uma parcela mínima da população trabalhadora (sim, porque também trabalham), assusta. É como dizer que o dinheiro não vai mais circular, se não for livremente, desde que essa liberdade seja determinada por ele.
        E, com o tempo, nós temos a certeza que aquela incerteza, coberta de medo da expropriação, vai nos convencendo afinal de que, se o capital não nos dá o trabalho, onde nos colocar como venda da própria força de trabalho?
        Na verdade, o mercado só reage com as suas certezas, quando está com medo. E medo de quem?
        A questão não é o medo de quem, mas o medo de quê. Medo de não poder ganhar mais sobre o rentismo do capital, o mercado não se preocupa com o status quo, mas se preocupa com o seu status quo. Ele precisa saber, com certeza, de que estará ganhando, servindo a Deus ou ao diabo. Falta definir o momento em que o diabo o carregue.
        E o diabo somos nós, aqueles que o carregam sobrepesado nos ombros e a garantia certa do rentismo. É claro que eles podem sair do país, talvez indo para um outro onde a política seja mais “amiga”, na expressão dos seus profissionais e defensores na mídia.
        Mas, qual o melhor cenário para a aplicação do rentismo do que num país onde o equilíbrio social prevaleça? Na lógica do mercado, o equilíbrio social é a certeza mais certa de que a política é perene, é constante, tem um foco. Nada mais tranquilizador do que atuar em um país pacificado socialmente e equilibrado moralmente no trato entre as classes. Será?
        Mas a lógica certa não é essa. É no caos e no medo que o rentismo mais rende. No caos, as pessoas se desfazem dos seus bens, na certeza de que nada vai dar certo, perdem a noção de valor e, na calada da noite, esses bens não passarão para aqueles que fogem, mas para aqueles que podem se acoitar e especular com tranquilidade até que passe a refrega; e ela sempre passa.
        Seja curioso e observe os economistas derramando os seus discursos sobre os juros que devem ser impostos à economia, e veja que aqueles ligados a bancos defendem a alta e aqueles ligados à indústria e ao comércio defendem a baixa. Existe coerência política na Economia? É claro que não. O rentismo, seja qual a fonte, baseia a certeza da sua lógica nos interesses que defende.
        A única certeza é que a terceira via é que paga a conta. E essa terceira via é a classe trabalhadora, seja ela média, A, B, C ou D, classificações meramente especulativas, porque um trabalhador sem filhos não pode ser comparado àquele que opta por uma prole, portanto, essa classificação já foi para o lixo há muito tempo.
        A certeza está com aquele que tem o microfone na mão, ou a caneta da mídia. Resta aos sem mídia escolher as suas certezas. Não procurar uma ascensão social baseada em letras aleatórias, como se a vida fosse o banco imobiliário, nos dados das estatísticas furadas.
        Não que ele seja ruim, os mercados fluindo com retidão nenhum mal causam. Não é um libelo contra o capitalismo, mas contra o capital que, certamente, busca mais suas certezas, espalhando as incertezas aos leigos.
        A sociedade organizada, baseada em números, raciocinando em números, jamais compreenderá a vida fora dessa bifurcação de informações.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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