Crônicas

Ao mestre, com carinho

        Professores são gente como a gente, Gente que resolve, no despertar de um dia qualquer, ao ver aquele homem ou aquela mulher diferentes, entrando em uma sala repleta de outras gentes, todas diferentes entre si, decididos que vão tornar o Brasil melhor, com outra cara ou outro astral. Porque esses seres diferentes, pensem bem, saem de suas casas dispostos a encarar a batalha de ensinar seus ensinamentos para quem quer fazer a diferença e ser diferente no futuro, também.
        Professores estimulam os professores naturais que existem em cada um de nós. Se você perguntar para algum professor porque resolveu ser professor, eles responderão, quase unanimemente, que viram e admiraram, um dia, o professor que eles tiveram.
        Professor é uma praga, uma urticária que grassa em algumas pessoas, que, não sei por que cargas d’água, faz de você, ao olhar no espelho, dizer: vou ser professor também.
       E essa vontade danada, nem olha para o que se paga, apesar de brigar, constantemente, contra aqueles que um dia aprenderam com outros professores. Depois de caírem na vida, apesar de ter na mão a caneta, o papel e a autoridade, desprezam, covardemente, e abandonam o mestre que ficou lá esquecido, virou retrato, lembrança de travessuras, e nem se lembram, por um momento, que se lutassem por eles, como o professor um dia lutou, ninguém precisaria de caneta, papel ou autoridade, para mandar para a prisão os irmãos que os professores não conseguiram salvar.
    Hoje em dia, alguns abastados, bem posicionados, esquecidos da formação cidadã que o professor lhes deu, de graça, cobram deles, os mestres do passado, produção, mérito, ou dizem, arrogantemente, que a porta da rua é a serventia da casa. Falam em méritos, capacidades, como se esses viessem com eles do berço, e se esquecem que alcançaram isso graças aos mestres por cujas mãos passaram.
     O dia do mestre deveria ser o dia do mau político, do ambicioso, do meliante de alta roda, do esperto, do ganancioso. Para lembrar que no dia em que se comemora o dia daquele que deseja, todos os dias, transformar o mundo, lembrar também que aqueles tais vitoriosos deveriam passar para o final do mundo, com uma orelha de burro pendurada, mostrando para todos que não aprenderam nada.

 

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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