Crônicas

Abranger

        Abranger tem um sentido tanto de particularidade como de coletividade. Pode significar o que é possível conter no interior de si ou em algum lugar, e, ao mesmo tempo, um grande círculo com um alcance maior. Ou seja, pode ser pequeno e ser grande, ao mesmo tempo.
       Ao mesmo tempo, significa limites. Limitado a grandes segredos ou limitado a uma simples informação que se expande, alcançando grandes distâncias.
      A internet abrange todo o mundo, que está conectado através de algum dispositivo. Mas esse todo mundo é limitado a privilegiados tecnológicos, não alcança àqueles que desprezam a tecnologia e preferem o mundo natural, ou àqueles que, simplesmente, não podem adquiri-la.
        A tecnologia expande limites e, também, não dá limites até onde a informação pode chegar. E, sem cuidado, é assumida, ilimitadamente, e usada, na maioria das vezes, irresponsavelmente.
        Abranger significa responsabilidade, saber lidar com aquilo que nós recolhemos para reflexão e aquilo que difundimos, com intenções boas ou más. Abrangência, nesse caso, é poder, é influenciar é fazer justiça ou injustiçar.
        Poderes são abrangentes, e, como poderes, criam castas de privilegiados. Até onde pode alcançar? Pode abranger o poder de um juiz, de um policial, de um político ou de um profissional que tem sob sua guarda mentes prontas para absorver a informação.
       Penso que o mundo sofre esse problema da abrangência. Imaginar que um simples post, jogado na abrangência ilimitada da internet, pode causar replicações com consequências imprevisíveis, essa palavra adquire um aspecto de estranhamento, de desconfiança.
        Mas nem tudo que é abrangedor é abrangível. A palavra funciona como uma teia que vai absorvendo tudo pelo caminho. A palavra tem a sua arte. Com palavras podemos fazer tudo que imaginamos. Como um deus impróprio podemos criar fantasias, medos e esperanças. A palavra é abrangente, manipulada com arte pode acolher incautos pelo caminho, passando por informação confiável, fabricada em uma fonte que se propõe ser creditória, com uma roupagem atraente, que envolve a caça com perfeição.
      A internet é, antes de tudo, uma fonte de informação e não de conhecimento. O conhecimento está disponível em livros, em autores considerados como estudiosos, não importa o matiz ideológico. E, como estudiosos, têm uma legitimação abrangível.
      Alguns se informam pela internet, aquela que supre o papel dos estudiosos, no caso dos preguiçosos. Para aqueles que possuem o conhecimento, a internet é uma fonte de consulta, porque tudo que é abrangível por ela não é totalmente de confiança.
        Portanto, nem tudo que é abrangível é confiável, e nem tudo que é abrangedor é uma fonte confiável de informação. Tudo que está ao nosso alcance não significa que abrangemos tudo, é o falso conhecimento disfarçado de informação.

Fonte da foto: Photo by Erik Odiin on Unsplash

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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