Crônicas

A ideia, o amor e o 2018 dos próximos dias

       Já perguntou o poeta Augusto dos Anjos, de onde vem a ideia. A mesma pergunta fazemos sobre o amor. Ninguém sabe de onde eles vêm. Mas, é na imaginação nossa que eles progridem, crescem, ganham corpo e asas. Ideias e amores nascem não sabemos onde, mas eles têm um destino a cumprir que é de nos fazer tomar decisões, de nos fazer humanos e participar da comunidade em que vivemos. Nenhum solitário sobrevive, senão tendo ideias e amores escondidos. E se eles estão escondidos eles ainda não existem, porque não foram colocados à prova no embate da existência humana.
        Nos próximos dias, novo número passará a contar e a fazer parte dos nossos dias. Alguns chamam de Ano Novo, e festejam, mas é apenas um novo número a requentar os mesmos dias.
        Desejos de um novo ano são apenas desejos, assim como as ideias e os amores que não vicejam se são solitários, não vicejam como flores nos jardins de nossos contatos, aos ventos e dissabores dos nossos dias.
        Nassin Taleb, em seu livro A Lógica do Cisne Negro, disse que nossos dias e nossos destinos são determinados pela sorte e pelo azar, nada está escrito, nem nas bolas de cristal e mãos humanas, e nem nas estrelas. Tudo se resume à sorte e ao azar.
        Para que a sorte ou o azar se manifeste, antes de tudo devemos participar da festa: ninguém dança com alguém se não participar de uma festa. Ao mesmo tempo, participar da grande festa da humanidade, a solidão não tem vez; o motivo para o mundo nos descobrir é vir à luz dos salões do grande festejo humano.
      Nossas ideias, nossos amores existem como participantes da festa, submetidos a todo tipo de sortes e azares, celebrações e aprendizados. Enfim, se deixar ver para ser visto.
       O novo número que se aproxima, e que passará a ditar nossas futuras datas, é, antes de tudo, um convite para a festa. Repetir as mesmas fórmulas, esperando que o suposto novo ano se modifique, é achar que a humanidade vai se comportar como os nossos desejos, e isso é uma afronta para quem deseja ter suas ideias celebradas e a se preparar para novos amores.
        Repetir as mesmas fórmulas é faltar à aula na grande escola da vida. E aqueles que faltam perdem um dia ou dias de aprendizado, e não podem delegar ao azar o fato de permanecerem sozinhos. Quando nossas ideias ficam guardadas na gaveta, quando nossos amores permanecem dentro de nós, com o medo da rejeição, o novo ano será apenas mais um número a contar os dias faltosos nas aulas.
        Permita-se entrar na festa e a participar do grande salão iluminado, confronte-se, prontifique-se a mudar, encare o azar como acidente de percurso, porque existe uma ideia pulando por aí, existe um amor andando por aí, loucos de alegria para te encontrar.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

2 comentários sobre “A ideia, o amor e o 2018 dos próximos dias

  • É isso aí. Sempre as mesmas perguntas (O que vc espera do ano novo?) e as mesmas respostas (Paz, amor, harmonia, saúde e… dinheiro, é claro) e blá, blá, blá…. 2018 = 2017 + 1!

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