Crônicas

A arte da conquista

        Conquistar o outro, seduzir são algumas das palavras que compõem o dicionário amoroso. A arte da conquista chega a ser ensinada por alguns “experts” no assunto. Maneiras de abordagem, o que falar, o que não dizer, vender-se para o outro como um pacote de desejos que aquele ou aquela esteja disposta a comprar.
        A arte da conquista poderia ser assemelhada ao processo de venda. Em um bom curso de vendas, o professor ensina que ninguém pode vender alguma coisa que alguém não esteja disposto a comprar. É verdade. Você não pode vender produtos que, absolutamente, não estejam no radar de desejos de alguém.
       Então, a regra básica é entender quem é o outro, quais seus desejos, quais os motivos que poderiam fazer com que ele ou ela erga o olhar com interesse, com brilho nos olhos.
       É como ganhar alguém, ganhar sua confiança, ganhar a sua companhia, ou, algumas vezes, ser o herói daquele alguém. Algumas vezes chegamos a exagerar como a dizer que roubou o coração de alguém, ou que a conquista é a arte de convencer, mesmo que o outro não esteja a fim disso. Outra mentira. Não se rouba quando o outro não quer ceder, o que nos leva a crer que a arte da conquista combina exatamente com aquilo que o outro quer.
     Começa na troca de olhares (ninguém troca olhares com alguém se não houver interesse), uma aproximação, uma apresentação, e lá vai o conquistador achando que chegou até aquele ponto pelo simples fato de ser ele, aquele ou aquela que chega. A arrogância é que leva a pensar assim, quando, na verdade, aquele ou aquela que chega é que está sendo atraído, como o animal indefeso que cai em uma armadilha.
        Quanta presunção existe na arte da conquista!?
       O circunspecto, para os olhos de quem ama, é o tímido; para o palhaço que provoca o riso em alguém é apenas alguém divertido. Os polos se atraem, e não, simplesmente, provocam a reação da atração.
       Uma atração é despertada, muitas vezes pelo ódio, pela cisma, mas, nunca, pela indiferença. Ser indiferente para alguém é o mesmo que nada. Um caso difícil de resolver.
     Não se ganha alguém porque, simplesmente, ninguém é um prêmio a rodar no palanque de um parque de diversões. E, muito menos, se conquista. Na verdade, alguém é conquistado por alguém e arrisca para ser notado. E então, como na arte da venda, alguém se traveste no objeto de desejo, se comporta de acordo com o interesse de alguém. Conquistar é mentir, uma tentadora mentira.
       No amor, na maioria das vezes, não é suficiente ganhar ou conquistar alguém, aliás, nem é preciso. Para conseguir um coração não é necessário ganhá-lo, nem conquistá-lo, basta pedir, enfim, correr riscos; o grande prêmio da conquista é a surpresa.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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