Opiniões

Somente um tolo duvida do poderio da monotonia

     A enxurrada de especialistas tem a missão principal de manter o espectador diante de uma tela para cumprir a mesma finalidade de hipnose. Reparem nas notícias que abundam em nossos jornais, informativos na internet, no caso da diva da vez, da celebridade que realiza atos prosaicos, como fazer compras, passear com os filhos; daquela que é “descoberta” tomando um plácido sorvete, nadando no mar, saindo dele como a sereia; podemos imaginar que, colocando lado a lado as fotos, parece um desfile da mesmice.
     Nas discussões políticas, o tema é recorrente. A oposição tem o discurso único de solapar escândalos, achando que os colocando em ordem de saída, como divas marinhas, eles tenham o poder de encantar corações e mentes, baseados em uma experiência estatística da repetição; a situação se defende mostrando outros escândalos, e não aquilo que faz de bom. A monotonia de mostrar escândalos justamente existe para que “o bom” se afogue no “mar de lama”.
     Assim como os filmes de terror que quando ameaçam a fronteira da repetição começam a cair na galhofa, da mesma forma que o drama em exagero cai no humor, o desespero da acusação pode cair no descaso e no ridículo.
     É preciso que as formas de apresentação do discurso acusatório sejam dadas de forma regulável. As recentes manifestações servem para manter acesa a chama da indignação na corrupção dos outros, nunca em um mea culpa, o que fugiria, realmente, da monotonia dos discursos. E quando a metralhadora continua ela mantém o outro lado na defensiva, mais para que olhares olhem os defeitos mais do que qualidades.
     Posso estar enganado, mas gostaria de fazer uma predestinação. A reação do garoto mimado, que se viu, pela primeira vez, sem o presente da hora, chegou cedo demais. O governo escolhido tem mandato a cumprir pela frente, e, fazendo a coisa certa, vai acabar com a monotonia do discurso da discórdia. Acho um erro estratégico manter viva a chama paulistana da indignação, como se ela pudesse comandar um país inteiro. Só resta à internet ir de encontro à monotonia. A esta altura ninguém vai mudar de opinião, ou porque está imbuído pelas suas razões ou, simplesmente, porque não querem dar o braço a torcer: se reconstruir é combater a monotonia.
     O que é mais importante, hoje: o discurso que move cinquenta por cento dos brasileiros na internet, ou o discurso das ruas?
     Os eleitores do não escolhido apostam nas ruas, garantidos pela visibilidade que a mídia comprometida possa dar. Mas, hoje, as pessoas estão mais ligadas ou na internet ou no bolso (É a economia?). O sucedâneo de escândalos, que quer passar que somente acontecem no governo atual, pode sair da própria monotonia e atingir a história dos opositores.
     Como disse antes, o processo acusatório começou cedo demais, e somente os tolos acreditam na perenidade do processo, porque em algum momento ele desanda, resta saber para que lado. Assim como as divas que saem do seu banho marinho, outras situações podem sair do mesmo “mar de lama”, e os tolos que teimam em nadar no mesmo discurso, embalando interesses, que em situação de normalidade jamais apoiariam.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura