Opiniões

O profissional e sua independência

Joaquim Barbosa ‏@joaquimboficial  27 de mai

1)  juiz deve ter remuneração muito elevada para não ter preocupações de ordem material. É fator primordial de sua independência.

        O ex-ministro Joaquim Barbosa, em seu twitter, publicou a mensagem acima. Antes de publicar um artigo acerca de qualquer assunto, passo alguns dias refletindo sobre ele. Gosto de ser cuidadoso com as palavras, e, principalmente, quando vou estabelecer uma reflexão sobre a fala de outro. O ex-ministro não é uma pessoa comum, é um personagem importante envolvendo um dos processos judiciais mais importantes do país, não se julgando aqui o mérito dele, enquanto ministro, ou dos réus do caso, ou mesmo o resultado do julgamento.
        Me atenho às palavras que estão no seu twitter, do qual não sou seguidor, mas fui verificar a exatidão da afirmativa em seu canal oficial.
        As palavras acima me assustam. Em síntese, diz o ex-ministro, a independência do magistrado está ligada à falta de preocupações materiais. Perguntei-me, então: trabalhadores de qualquer formação com preocupações materiais devem ser, ou estão sujeitos à dependência de alguma coisa ou alguém? A independência de qualquer profissional, exceto a de magistrados, é diferente? Afinal, o que norteia a independência de qualquer profissional: o conforto material ou a sua formação.
        Entrei em minha experiência como operador financeiro de um dos maiores bancos do Brasil. Diariamente, passaram por meu crivo alguns milhões de reais. Entre a decisão de decidir a taxa de remuneração sobre a tomada da captação ou do empréstimo somente uma pessoa: eu mesmo. Entregue tão somente à confiança que a empresa depositava em mim. Ao meu lado, outros colegas vivendo a mesma situação.
        Foram os sete anos da era FHC onde não houve qualquer aumento no índice salarial, a remuneração permaneceu congelada. A preocupação de ordem material era fato. O que não me levou a deixar de ser independente e resistir a qualquer tentação de vendê-la: o profissionalismo, o respeito à instituição, e a mim mesmo.
        Isso não me impediu de vislumbrar possibilidades, e deste vislumbre somente nasceu um romance que escrevi, tão somente. Assim como outros profissionais envolvidos em diversas áreas também viram, viveram e não sucumbiram a tentações.
        Nossa sociedade hierarquiza profissionais, como uma escala de valores absurda, fazendo com que determinadas funções pareçam maiores ou melhores que outras. E, no entanto, a sociedade não funciona assim. Todos são importantes fazendo bem feito, com ética e determinação aquilo que lhes é proposto, sejam profissionais que escolheram o que fazer, ou que enxergaram uma oportunidade de realizar outras aspirações. Esta mesma sociedade também proporciona escolhas, alternâncias, sejam elas para crescimento na profissão ou ganhos financeiros.
        Existem casos envolvendo a magistratura, que, mesmo obtendo um ganho financeiro considerável, em relação a outras funções, subvertem a ética. Logo, a boa remuneração não leva necessariamente à polidez e ao verniz da profissão, que sofre os arranhados do mau profissional. E de uma profissão que além da remuneração lhe dá um poder acima de outros.
        Usando a mesma verve que tanto se alardeia: a porta da rua é a serventia da casa, o que leva uma pessoa na posição do ex-ministro a realizar tal reflexão?
        Afinal o que norteia o profissionalismo? E nisto envolvendo o comprometimento com o ofício de fazer bem feito e a ética de manter a direção em estabelecer o bem fazer.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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