Opiniões

O descontrole da mída: o povo não é bobo

O DESCONTROLE DA MÍDIA: O POVO NÃO É BOBO

     Os editores dos jornais e revistas separam as notícias, até porque a quantidade de informação não cabe em um pequeno pedaço de tempo, e as notícias, como se diz, voam. E as más notícias voam mais rápido, a questão é saber se a notícia é boa ou má para quem. Não há nada de divertido em ficar separando notícias como se estivessem os editores no jardim de infância a separar e recortar jornais, é coisa séria, feita por gente que entende. A sociedade, em tempos de mídia monopolizada, o que menos tem é informação. Aliás, ela tem uma enxurrada de informações, e no meio delas existem as versões, a questão é colocar em manchete, na página nobre a notícia que interessa.
     Não consta que o governo queira melhorar a qualidade da imprensa, até porque definir qualidade é um conceito individual. Para um padre, a qualidade está em difundir o Evangelho, considerando que as almas, o rebanho trilhe um determinado caminho; para o militar, qualidade é manter a tropa sempre bem treinada, e pronta para uma suposta batalha. Ou seja, qualidade é o que é bom para mim, ou para empresa é o limiar entre atender o público e o custo.
     E a questão é saber escolher entre o custo e o interesse próprio, essa qualidade é duvidosa.
     Evidente, que quando um monopólio é colocado no muro, confrontado, o esperneio é válido. O assaltante, quando pego em flagrante, esperneia, ilude, tenta demonstrar que a coisa não é bem assim. Conversa. O negócio é poder, é estar sempre na crista da onda, determinar a ordem e uma moral relativa, principalmente relativizada de acordo com a sua cultura e a manutenção de espaços.
     Quando se fala em controle da mídia, temos de admitir que ela é controlada por alguém. Ela não funciona sozinha, ao seu bel prazer. Existe uma forma de controle por trás dela, aqueles que têm o poder de colocar no papel aquilo que se acha deva ser sabido, e até se chama o “especialista” para dar credibilidade.
     Afinal, o que é notícia? Aquilo que se noticia, aquilo que está no papel, na boca do povo, com as suas versões. Afinal, se eu posso falar de alguém, reverberar aquilo por diversos meios, e esse alguém, a única coisa que pode é gritar nas ruas ou chorar no travesseiro, isso não é notícia, é massacre.
     Os governos têm mazelas? Claro. Qualquer governo. Todos têm o direito de criticar? Claro. E todos têm direito de montar farsas argumentativas, uma montagem de notícias como, por exemplo: ao lado de um lançamento imobiliário de luxo, às margens da Lagoa Rodrigo de Freitas, uma foto com uma mortandade de peixes exalando mau cheiro, não é coisa de inocente. Isso é notícia, as duas, juntas, chama-se manipulação. E quem pode fazer isso? A mídia. Essa arrumação não é notícia.
     Liberdade de imprensa, sim! Por que não? A questão é o que fazer dessa liberdade. Um pássaro que voa é livre, mas tem o seu percurso determinado pela natureza; o livre-arbítrio é uma forma de liberdade, mas o forte baterá no fraco e o fraco nada poderá fazer. Liberdade é ser igual, poder debater lado a lado, da mesma forma. A mídia está sentindo esta liberdade, e, portanto, esperneia, esprimida no muro reclama que não é bem assim, olha, querem tirar a minha liberdade. O que se quer é igualá-la, principalmente, sendo levada às barras dos tribunais e não vir com a cascata de que é livre para dizer o que pensa, mas não para ouvir.
     Acho que a mídia não deva ser controlada, afinal o povo não é bobo, acessa a internet e, a não ser os carentes de discurso e argumentação, filtra e determina o que quer ler, impérios costumam cair sozinhos.

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura