Crônicas

Escolha seu eu para colorir

       Colorir flores em um livro recheado de vazios onde colocamos as cores que nos vêm à cabeça. Dizem que serve como alívio para o stress, a distração em espalhar gotas coloridas, criando jardins na imaginação.
       A vida também é um jardim, um espaço vazio que preenchemos com momentos coloridos, jardins onde os olhos e os sorrisos nos fazem ver passarinhos verdes. O amor, por exemplo, preenche nossos corações, nossos pensamentos com momentos coloridos (e como é bom esse colorido!).           Às vezes nem é bem amor, pode ser uma espécie de contrato, mas, mesmo assim, chamamos de amizade colorida.
        Algumas pessoas veem a vida em preto e branco. O olhar é sombrio, o sorriso forçado. Sentimentos que perambulam na escuridão, na espreita, invejas, ambição desmedida, propensão às traições, na busca de um colorido que não habita o outro lado da janela do poeta, que como um arlequim de chapéu colorido salta no imaginário em busca de um arco-íris de cores inimagináveis.
        Por isso, na busca da autoafirmação do gênero, novos gêneros se abrigam em cores alegres e divertidas; as combinações de cores são infinitas, assim como o amor.
       Pessoas em preto e branco não se permitem colorir. Afastam os momentos coloridos com desdém, desprezo, criticam o colorido que algumas almas, não, quer dizer, muitas almas, com certeza, já trazem dentro de si. Expressos nos sorrisos, nos olhares úmidos e brilhantes, esbanjando cores para o mundo, de quanto e como estão coloridos por dentro.
      Como ideia para afastar o stress, o desânimo, a desesperança, que tal colorir nossa vida por dentro? Um vermelho bem vivo a bombear do coração para o mundo, uma mente desvanecida, azulada, de anil, a fazer fluir pensamentos positivos, o amarelo desprezado, mas que habita na luz solar, saindo das mãos espalhando a luz pelos caminhos, o branco, por que não, na suavidade das palavras distribuindo a paz, o verde da calma do respirar tranquilo e tranquilizador, e o preto, também por que não, a servir de pano de fundo, o que dá o realce, e até o brilho, ele, a mistura de todas as cores.
        Mas o falso também pode trabalhar o colorido e pode até brilhar. No verdadeiro, a cor brilha e passa realidade.
        Como encher nosso livro interior com os momentos coloridos?
      Amando, mesmo que não seja amado, porque o amor de si mesmo é que prepara a página de amar. Não existem amantes que não sejam coloridos, e colorem e se deixam colorir e são livros abertos, páginas e páginas que vagueiam, se autopreenchendo dando de si para o outro, na troca de lápis de cor, como crianças em mesa de jardim de infância.
        Falta colorir o mundo, não tão somente os livros, que guardamos nas gavetas. Falta o colorido no abrigo das discussões políticas, encardidas nas ideias aferradas ao ódio, o falso brilhante do verniz incolor, e espalhar a cor única da divisão da riqueza dos homens, da matéria ou da alma que se abraça.
        É preciso colorir e se deixar colorir pelo mundo. Deixar-se abrir como um livro que revela seus segredos em preto e branco, à espera de que a luz da compreensão venha com seus momentos policrômicos.
      Portanto, entregue-se às tintas da imaginação e comece a se colorir por dentro, porque mais do que nunca as cores que outros trazem nos revelam as melhores combinações. Grafites que revelam o que nós somos.
         Transforme-se em um livro para colorir, e se encha de cores por dentro.

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Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura

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