Opiniões

A bolsa vai cair… e daí?

     Uma das grandes falácias do discurso contorcionista (e aí vai uma situação para não se perder a piada) é que o mundo vai acabar se a bolsa cair. Sim. A bolsa caiu e quem tem aplicação na bolsa vai perder. E a pergunta é a seguinte: você tem dinheiro aplicado na bolsa? Portanto, caberia outra pergunta: quando a bolsa sobe, o que isso afeta a sua vida? Nada? Portanto, o mesmo efeito é quando ela cai.
     Em uma busca na internet, com data de 2013 a Bolsa apresentava um total de 637 mil participantes. Você é um deles? Conhece algum deles? Mas, eles existem, até nas aplicações do FGTS. O que aconteceria se a bolsa deixasse de existir? As pessoas teriam mais dificuldades em comprar ações ou de vendê-las, mas, as empresas continuariam a distribuir os dividendos, ou seja, o mundo não deixaria de existir.
     Ah! mas, você diria que a crise de 29 quebrou todo mundo. Todo mundo que tinha dinheiro na bolsa. Lembra da pirâmide? Pois é, era uma pirâmide que como todas as pirâmides não deu certo.
     Agora, vamos para a realidade. A Petrobrás tem, segundo pesquisa na internet, sob o controle da União e BNDES 60,37% das suas ações. O restante está distribuído entre os Fundos de Previdência, devidamente encarteirados e o restante com o público. Não tenho os dados, mas são significativos. Mas, vamos ao chute. Dos 39,63%, digamos que as ações em carteira sejam da ordem de 15%, sei lá. Para o público, restaria 24,63%. Considerando que alguns não são operadores, mas poupadores e investidores em ações como no caso do FGTS, poderíamos dar um outro chute de 4,63%, só para arredondar. Portanto, 20% dos papéis da Petrobrás circulam no mercado.
     Neste momento, os profetas do apocalipse financeiro dizem que o valor de mercado da Petrobrás é muito baixo. Ou seja, você multiplica os 100% das ações pelos valores determinados por 20% dos papéis em circulação. Se há uma corrida pela venda, o valor cai e logo chega um outro grupo que se apossa deles, porque logicamente se alguém vendeu, alguém comprou. A pergunta é a seguinte: isso é valor de mercado? Pelas contas dos apocalípticos o valor de mercado não daria para comprar meia dúzia de navios que circulam por aí.
     O governo, as fundações de previdência venderiam suas ações pelo tal valor de mercado? É claro que não, até porque se eles decidissem colocar todos os papéis à venda, quem compraria? Os 637 mil? E ainda temos que considerar que desses 637 mil, uma minoria, mas com grandes capitais são estrangeiros. O que sobra de brasileiros? Não sei, mas o número é mínimo diante de uma população de 200 milhões de habitantes.
     Voltamos ao início do nosso discurso. A bolsa afeta sua vida em quê? Você que sai para trabalhar ou estudar todos os dias. Se a bolsa cair, as bombas deixarão de existir e abastecer seu carro?
     Ah! mas, na hora em que a Petrobrás decidir fazer uma subscrição das ações como seria, no caso de ela querer aumentar o seu capital para investimento?
     Se a empresa decide aumentar seu capital, via subscrição, 80% decidem pelo aumento, logo estará disposta a comprar, que diferença vai fazer os 20%? Serão, naturalmente, absorvidos pelos 80% quanto à sobra das ofertas.
     É claro que eu não posso supor com clareza os dados dos 20%, talvez nem mesmo dos 15% dos fundos de previdência, mas, garanto que estão bem próximos.
     Quando surgem as tais situações de “acalmar os mercados” eu fico me perguntando e essa pergunta também vai para você. Que mercados, se o único mercado que a gente entende é o supermercado das compras mensais ou semanais?
     A existência da bolsa é interessante? É. Até porque uma das últimas medidas do governo é a possibilidade de pequenas e médias empresas poderem ofertar suas ações na bolsa e poder alavancar capital mais barato, nos mesmos moldes que as empresas de garagem americanas fazem.
     Mas, no fundo, no fundo, envolve muita malandragem. E quem entra no mercado de ações sabe que corre o risco, mas, daí querer que o governo os acalme vai uma distância muito grande.
     Acalmar mercados me parece mais um suculento bolsa-família do que calmante para enganar bobo. O que você acha?

Nilson Lattari

Nilson Lattari é carioca, escritor, graduado em Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro, e com especialização em Estudos Literários pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Gosta de escrever, principalmente, crônicas e artigos sobre comportamentos humanos, políticos ou sociais. É detentor de vários prêmios em Literatura